PYONGYANG – Em forma de pirâmide, o Hotel Ryugyong, em Pyongyang ? que poeticamente foi construído com alguma ajuda de egípcios ? é um dos prédios mais estranhos do mundo e um dos mais notáveis fracassos da construção civil. Projetado para ser o hotel mais alto do planeta, ele ainda não hospedou ninguém, ainda que tenha quase a mesma idade que o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un. O mistério: um dia irá hospedar?
Quase 30 anos depois de iniciadas as obras, a torre surge como um vulto sinistro na noite de Pyongyang, com um único ponto de luz no topo piscando um silencioso aviso para os aviões. Durante o dia, moradores entram e saem da estação de metrô vizinha sem sequer olhar para sua presença de 105 andares.
No início do mês passado, entretanto, um vídeo mostrando luzes subindo em direção ao topo, combinadas a uma visita a Pyongyang feita pelos investidores egípcios do projeto, levantaram especulações de que a construção estaria sendo retomada e de que o hotel poderia até mesmo ser reaberto em 2017. Alguns tabloides chegaram a afirmar que já estaria recebendo hóspedes. Na verdade, não. E aquelas luzes nos andares superiores apagaram novamente.
Mas a ideia de quem Kim pudesse estar interessado em finalmente terminar o maior projeto iniciado em nome de seu avô, o ?eterno presidente? Kim Il Sung, não é propriamente bizarra. Desde que assumiu o poder, há cinco anos, Kim ordenou a construção de diversos arranha-céus que mudaram significativamente o horizonte de Pyongyang.
A construção da torre Ryugyong começou em 1987 e deveria levar cerca de dois anos. Por vários motivos, ela se arrastou até 1992, ano que marcou o começo de uma década muito ruim para a Coreia do Norte, que, como outros países do bloco comunista, entrou em profunda crise econômica com o colapso da União Soviética, em 1991. O país sobreviveu ao que agora é conhecido pelo eufemismo de ?marcha árdua?, mas a construção do Ryugyong só recomeçou em 2008. Com uma injeção de US$ 30 milhões de fundos da Orascom Telecommunications Holdings, do Egito, o exterior do prédio foi completado em 2011.
Em junho de 2012, a Orascom disse que esperava concluir parcialmente o projeto, de 360 mil metros quadrados de área construída, com apartamentos e escritórios, além dos serviços de hotelaria, até o fim daquele ano. Emprestou, então, mais US$ 15 milhões, ?a serem pagos quando a torre se tornasse operacional?. Aparentemente, a companhia ainda espera ser ressarcida.
Três restaurantes rotatórios
Simon Cockerell, gerente geral da Koryo Tours, que opera pacotes turísticos na Coreia do Norte, é um dos poucos estrangeiros que chegaram a ver o hotel por dentro.
? Quando o visitamos pela primeira vez, em 2012, encontramos o diretor do projeto, que nos mostrou, num vídeo, como ficaria o prédio. Mas não nos deu cópias nem nos deixou filmar. Mostrou o hotel que imaginavam, mas disse que algumas coisas do projeto original tinham mudado. Não haveria mais elevadores externos e, em vez de cinco, seriam três restaurantes rotatórios. E que não havia fundos para terminá-lo. Simplesmente uma questão financeira ? contou Cockerell.
Outros que fazem negócios frequentes com oficiais do turismo norte-coreano também são cautelosos.
? Até onde sabemos, a versão oficial continua sendo ?eles estão trabalhando? ? disse Troy Collings, diretor de operações de outra agência de turismo na Coreia do Norte, Young Pioneer Tours. ? Não ouvimos qualquer menção a esse trabalho dos nossos parceiros, e aposto que se estivessem preparado a abertura do hotel, as autoridades estariam bem interessadas em nos informar.
Enquanto isso, o Hotel Ryugyong continua sendo o maior prédio desocupado do mundo.