Cotidiano

O karma do nome

Ter um sobrenome de grafia diferente à língua portuguesa não me tirou um pedaço, embora tivesse frequentemente que arrumar meu nome

Vivian Weiand

Quando eu tinha seis anos de idade – lembro bem por que estava na primeira série – não entrava na minha cabeça por que a letra “e” junto com a “i” fazia o som de “ai”. Eu não conseguia entender e ficava ressentida em tem que dizer meu nome e sobrenome, logo que aprendi a fazer isso, justamente por estar dando uma informação confusa, totalmente fora do que eu aprendia como sendo o correto. Mesmo que logo tenham me esclarecido não haver motivo de alarde – era sobrenome alemão e se falava exatamente como me ensinaram – me sentia uma estranha nos primeiros anos escolares em ter que explicar que se dizia “Váian”, mas se escrevia com “e” e “i”, outra incomodação que me acompanharia anos depois.

Ter um sobrenome de grafia diferente à língua portuguesa não me tirou um pedaço, embora tivesse frequentemente que arrumar meu nome quando recebia correspondência. Sala de consultório é outro problema (senhora “veain” ou “uéian”) e mais de uma vez lá estava eu gritando: é “váian”. Mas tudo bem, as pessoas não são obrigadas a saber como eu já errei o nome de muita gente, mas uma coisa é você nascer com uma coisa dessas grudada no seu nome, outra é você voluntariamente submeter seus filhos, seus descendentes, a passar o resto de seus dias explicando como se escreve seus nomes: “É Graz-zy-e-li, com dois “z”, “y” e “i”…não, não… “y” é no final…e não são dois “l”, são dois “z”. pode-se até entender o desejo dos pais em ter um filho com uma grafia especial, o que os diferencia dos demais, mas antes de registrar o que seria Deividi, que já vai enfrentar problemas, como Dheivitthy, deviam os pais pensar um bom no bem estar de seu filho antes de submetê-lo à eterna correção. É Dheivetthy, com “h”, e onde meter esse “h” é só o começo da conversa até que alguém aponta a cidadão com ar de engraçadinho: mas quem foi que te deu esse nome¿

Parece difícil de acreditar , mas foram seus pais, pessoas que não se satisfizeram em escrever Camila com k. A filha deles tinha de ter em seu nome a maior quantidade de “l” e “y” possíveis. Antigamente você colocava o filho em maus lençóis se o nominasse Jonh Travolta, Allan Kardec ou Bob Marley – e, acredite, ainda tem disso aos cântaros casos por aí – mas se a ideia era exclusividade, a estratégia atingia seu objetivo. Ninguém nunca mais vai esquecer seu filho – olha o Elvis Presley chegando!! – mas submetê-lo a soletrar a todo instante como é o Elvis dele (o meu é com “h”, dois “l” e “y”) é, no mínimo, consequência do egoísmo de não pensar na vida de um filho de forma independente da de seus pais, uma vez que a Barbie, o Ken, ou seja, lá o que vão inventar para seus filhos vai crescer, e a herança do que seus pais acharam o máximo só a esfera jurídica pode mais tarde resolver. Até lá, o Hellvys estará cansado de soletrar.

A autora é jornalista