Cotidiano

Museu Casa do Pontal já tem projeto para nova sede

INFOCHPDPICT000059686596RIO – Há três anos, o Museu Casa do Pontal vivia um dilema. Mesmo oculto no final do Recreio dos Bandeirantes em um sítio de cinco mil metros quadrados, a instituição ganhou notoriedade e podia se orgulhar de receber uma média de quatro mil visitantes mensais, sendo 40% deles da região da Barra da Tijuca. O sucesso, porém, estava ameaçado pela construção de um condomínio ao lado do local, numa área até então praticamente rural. Com a impermeabilização do solo feita para erguer os prédios, as condições ambientais mudaram. No dia 16 de janeiro deste ano, o local inundou, ameaçando o acervo de mais de oito mil peças de cultura popular brasileira e concretizando o maior temor dos responsáveis pelo museu desde a chegada dos novos vizinhos. Diante do cenário e depois de muitas negociações com a prefeitura, o museu, que completa 40 anos este ano, finalmente ganhou um novo endereço, e, embora a mudança só vá acontecer daqui a dois anos, já se prepara para trocar de sede.

? Fomos vítimas da urbanização ? avalia Lucas Van de Beuque, que administra o museu junto com a mãe. ? Isso aqui era uma região isolada, mas agora chegaram os prédios, e tudo só tende a piorar.

Por décadas, o museu teve o ambiente ideal para a preservação de seu acervo: era arejado e com forte insolação, o que mantinha o ar seco mesmo com as frequentes chuvas. O muro de prédios surgido atrás do casarão alterou o cenário.

? As condições para manter o museu aqui não existem mais ? afirma Ângela Mascelani, nora do fundador do museu e mãe de Van de Beuque. ? Batemos cabeça com isso por três anos. Instalamos um sistema para evitar inundações (após o incidente de janeiro), mas é uma solução provisória.

O martelo foi finalmente batido este ano: o museu ficará mais perto do seu principal público, transferindo-se para a Avenida Célia Ribeiro da Silva Mendes, na Barra. A via, ainda sem grandes prédios, fica próxima ao condomínio Alphaville. A negociação foi feita com intermédio da prefeitura, que participou de dezenas de reuniões com os responsáveis pelo museu e as construtoras para escolher o melhor terreno para abrigar a nova sede.

? Olhamos muitos terrenos antes de nos decidirmos por este ? conta Van de Beuque. ? A vantagem é que consideramos muito improvável que aconteça ali o que houve aqui no Pontal. Todos os condomínios próximos são de casas, não de prédios.

De acordo com ele, pensou-se em levar o museu para um terreno no Centro, mas a falta de espaços culturais na Barra fez a família decidir mantê-lo na Zona Oeste.

? A verdade é que temos poucos espaços dedicados a artes plásticas aqui na Barra. Tirar o museu daqui seria acabar com um dos poucos equipamentos culturais da região ? opina ele.

Com a mudança de sede, a aparência de sítio ficará para trás. O novo prédio, feito com traços modernos e abusando da utilização de vidros, foi desenhado pelo escritório Arquitetos Associados, grupo mineiro que ganhou em 2010 o primeiro lugar no concurso para o projeto de expansão do Museu do Meio Ambiente, no Jardim Botânico. Ele terá um jardim interno, que poderá ser visto de dentro das galerias. Também haverá um espelho d?água com direito a vegetação aquática e variadas espécies de peixe.

? O local onde o museu fica hoje não foi concebido com esse objetivo. Não faria sentido tentar reproduzi-lo. Este projeto aponta para o futuro ? avalia Bruno Santa Cecília, um dos autores.

O uso do vidro, explica o arquiteto, é importante para garantir a visão da natureza, além de propiciar o máximo possível de luz natural:

? Será um museu diurno, com uma arte muito solar.

O principal objetivo, diz Ângela, é mesmo manter viva a integração entre a natureza e as obras expostas:

? Temos este jogo muito importante para nós, que são as obras integradas à natureza.

Assim como acontece atualmente, está prevista a exposição de obras de arte em meio à vegetação, nos jardins interno e externo.

Escritório de Burle Marx fará jardins

Para o arquiteto Bruno Santa Cecília, o novo espaço do Museu Casa do Pontal é um papel em branco. O terreno, completamente plano, vai ser trabalhado para ter variações topográficas, criando um ambiente mais intimista. Também com a intenção de transmitir uma impressão de familiaridade ao visitante, haverá um calçamento de pedras portuguesas. O escritório de paisagismo Burle Marx vai desenhar os jardins, o que acaba sendo um reencontro de dois antigos companheiros de trabalho. Jacques Van de Beuque, fundador do Museu Casa do Pontal, trabalhou com o paisagista na década de 1940, como colorista.

? O Jacques tinha uma relação com Burle Marx. Foram da mesma geração brilhante ? conta Ângela Mascelani.

O museu será erguido num terreno cedido pela prefeitura e em parte financiada pelas construtoras Calçada, Calper, Gafisa, Even e RJZ Cyrela, que ergueram o condomínio Pontal Oceânico ao lado da sede atual da Casa do Pontal. De acordo com os responsáveis pelo espaço, o orçamento do projeto ficou em R$ 16,9 milhões, e as empresas deram R$ 11 milhões. Devido à diferença, a construção do novo museu será dividida em fases.

Na primeira etapa, serão construídos 2.463 metros quadrados de área, o que inclui o local para a exposição permanente, uma sala multiuso, uma loja, um restaurante ou cafeteria, uma brinquedoteca, um espaço de leitura e as áreas técnicas e administrativas do museu.

Na segunda fase, serão construídos mais de mil metros quadrados, incluindo uma sala destinada a exposições temporárias, grande parte do projeto de urbanização e paisagismo e um sistema de energias renováveis. Os administradores do museu ainda estão em busca de financiamento para viabilizar esta etapa. E garantem que o museu permanecerá aberto no Pontal até a nova sede ficar pronta.

? Continuaremos funcionando até o momento da mudança ? garante Lucas Van de Beuque.