Além da secura, o mês de setembro se desenha como o mais quente dos últimos 20 anos
São José das Palmeiras – A irregularidade das chuvas nos últimos 90 dias ainda não é motivo generalizado para preocupação, mas pode se tornar se as precipitações não forem normalizadas nas próximas semanas e se o consumo de água continuar aumentando devido ao calor intenso como o que tem feito neste mês.
Segundo o Escritório Regional da Sanepar, ao menos um município da região vive situação crítica. Em São José das Palmeiras um caminhão-pipa distribui água potável à população porque todas as minas secaram e isso tem se repetido há pelo menos uma semana.
Em Três Barras do Paraná o nível dos reservatórios, incluindo rios, poços e minas, baixou 30% e em outras cidades como Palotina, Diamante D´Oeste e Santa Tereza do Oeste, esse índice beira os 15% de redução.
A gerência regional afirma que por enquanto não há riscos de racionamento ou interrupção do abastecimento, porque há, em cidades como Cascavel, reservatórios que comportam o fornecimento por um bom período ainda, mas o alerta é para o consumo consciente constantemente, já que o sistema teria dificuldades para comportar isso por todo o verão.
Alta temperatura
Além dessa secura toda, que pode ter uma trégua no fim de semana, há outro fator relevante e que merece destaque. Ainda faltam nove dias para o início da primavera, o mês de setembro não está nem na metade, mas ele se configura, até o momento, como o mais quente dos últimos 20 anos.
A avaliação é do Instituto Tecnológico Simepar, que analisa as médias de temperaturas, e a máxima histórica para a região oeste neste ano está em 31ºC. A máxima histórica para todo o mês é de 26ºC. “Claro que se chegar uma frente fria e derrubar as temperaturas por dois ou três dias este cenário se modifica muito rapidamente, mas se caminhar da forma como está, vai se consagrar como o setembro mais quente desde 1997”, adianta o meteorologista Samuel Braun.
Entre os itens que têm contribuído para as temperaturas nas alturas são as massas de ar seco que impedem o avanço de frentes frias, já que são elas que trazem umidade. A que chegou no início da semana, por exemplo, não teve força nem umidade suficientes para vir acompanhada da primeira chuva de setembro em boa parte da região. As exceções ficaram para a cidade de Foz do Iguaçu, onde segunda-feira choveu cerca de 20 milímetros, e em cidades na divisa com o estado do Mato Grosso do Sul.
Agricultura sofre com a falta de água
O meteorologista Samuel Braun lembra que os meses de julho e agosto deste ano não foram os mais quentes dos últimos anos, mas ficaram com temperaturas máximas, na média, bem elevadas. Quanto às chuvas, apesar de elas ocorrerem neste inverno com longos intervalos de tempo, a quantidade registrada em algumas ocorrências deixou as precipitações dentro das médias históricas. “Em agosto tivemos uma chuva muito expressiva no dia 20. Só em Cascavel e na região foram 120 milímetros e a média histórica era de 90 milímetros. Daqui dez anos, ao consultar os registros, não vamos lembrar que ficou um longo período sem chuva, mas que a média foi ultrapassada porque numa única ocorrência foram muitos milímetros”, considerou, mas lembra que essas chuvas torrenciais lavam o solo, em vez de fecundá-lo e a água chegar ao lençol freático.
Já em setembro, cuja média histórica é de 120 milímetros, ainda não se viu precipitação em quase toda a região. A maior consequência para isso, além da saúde, prejudicada com a baixa umidade relativa do ar, na casa dos 40% ou até abaixo disso, são os prejuízos à agricultura. Todos os ciclos estão atrasados, desde o início do plantio da soja, que já pode ser intensificado desde o domingo (10) com o fim do vazio sanitário, até o retardo no plantio do feijão, que já deveria estar totalmente cultivado, mas que tem apenas 10% de suas áreas plantadas, além do atraso na semeadura do milho e o retardo no ciclo do trigo com menos de 40% das áreas colhidas, sendo que já deveria estar na reta final da remoção dos grãos das lavouras.
Chuva a vista
Outra preocupação, como já relatado, diz respeito à baixa vazão em rios e mananciais.
Em parte deles a vazão já diminuiu em torno de 15% e a expectativa é para que isso mude, ao menos um pouco, nos próximos dias. “Uma frente fria está se aproximando novamente e pode trazer chuva para o fim de semana, mas ainda não temos como precisar se será uma chuva expressiva”, reforça.
A previsão indica que de sexta até domingo poderão ser registrados 40 milímetros, o que contribuiria para, por exemplo, o início do plantio da soja e do milho e a finalização do cultivo do feijão.