BRASÍLIA Cláudia Cruz, mulher do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse que o marido era o responsável pela conta no exterior que bancava gastos da família fora do Brasil. Segundo ela, era Cunha quem autorizava compras de luxo no exterior. Cláudia prestou depoimento em 28 de abril em Curitiba à força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) que atua na Operação Lava-Jato.
Segundo o termo de declarações prestado pela mulher do deputado, ela “não tinha conhecimento do saldo da conta” e não a declarou às autoridades brasileiras “porque quem era o responsável por isso era Eduardo Cunha”. Ela alegou ainda que perguntava a Eduardo Cunha se poderia fazer aquisições de luxo e ele autorizava”. Cláudia disse ainda que “nunca se interessou em perguntar a Eduardo Cunha de onde era a origem do dinheiro utilizado no exterior”.
Após ser questionada sobre uma série de gastos com itens de luxo em Paris, Roma, Lisboa e Dubai, ela os reconheceu como gastos pessoais, mas disse também que “quem abastecia essa conta era Eduardo Cunha”. Ela negou ter, direta ou indiretamente, contas no exterior.
Cláudia não soube explicar por que retificou em 2015 a declaração de imposto de renda feita em 2014, aumentando o valor do patrimônio em cerca de R$ 300 mil. Ela apontou o contador Paulo Lamenza, “que faz as declarações de imposto de renda da depoente há vinte anos”, como a pessoa que pode esclarecer esse ponto. Disse ainda que ele presta conta a Eduardo Cunha.
Cláudia afirmou que a família sempre padrão de vida alto. Sobre a origem dos recursos do marido, ela disse que, pelo que sabia, eles vinham do mercado financeiro e do ramo empresarial. Negou ainda saber quanto ganha um deputado federal.
No mesmo dia, prestou depoimento Danielle Dytz da Cunha Doctorovich, filha do presidente afastado da Câmara. Ao ser questionada sobre gastos na Europa e nos Estados Unidos, ela deu resposta parecida à de Cláudia, sua madrasta: “a depoente reconhece a maior parte como gastos pessoas” e “todos os gastos do cartão de crédito eram autorizados por Eduardo Cunha, sendo que a depoente não recebia os extratos”. Também negou ter conta no exterior.
Disse ainda que “não fez sua declaração de imposto de renda, sendo que o responsável por esta declaração é seu pai, Eduardo Cunha”. Foi ele, inclusive, quem “sempre gerenciou sua vida financeira, mesmo quando foi casada, não vendo nenhum problema nesse fato”. Afirmou também que tem uma renda mensal variando de R$ 5 mil a 10 mil, sendo ainda financeiramente dependente do pai.
Assim como a madrasta, disse que não questionou Cunha sobre contas no exterior, “porque entende que não cabe a ela questionar tais fatos”. Por outro lado, diferentemente de Cláudia, afirmou saber quanto ganha um deputado federal, “mas presumia que o dinheiro que mantinha o alto padrão de vida da família era proveniente do patrimônio da atividade anteriormente desenvolvida por Eduardo Cunha”.
O termo de declaração mostra ainda que, questionada sobre “informações de créditos na sua conta corrente que, aparentemente, seriam incompatíveis com os valores declarados no imposto de renda, informa que não sabe esclarecer no momento, pois teria que checar o seu extrato”.
Uma das investigações abertas contra Cunha no STF no âmbito da Lava-Jato trata das contas mantidas por ele no exterior. Cláudia e Daniele também eram investigadas nesse inquérito, mas o caso delas foi enviado para a Justiça Federal de Curitiba, responsável pelos processos na primeira instância. Isso porque elas não têm foro privilegiado. Cunha, por outro lado, só pode ser julgado pelo STF em razão do cargo de deputado.