RIO – Antes de morrer, no dia 6 de janeiro deste ano, aos 75 anos, o escritor argentino Ricardo Piglia deixou pronto um cronograma para publicação de suas obras póstumas. Um dos principais escritores latinoamericanos de sua geração, Piglia trabalhou intensamente, após ser diagnosticado com a doença degenerativa Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) em 2014, para terminar uma dezena de livros.
– Piglia sempre foi muito minucioso. Por causa da doença, ele se dedicou exclusivamente a terminar as obras – disse o seu agente Guillermo Schavelzon ao jornal “El País”.
As principais obras de Ricardo PigliaO calendário seguirá a máxima do autor: “escrever muito, publicar pouco”. O primeiro lançamento, em setembro, será a terceira parte de “Los diarios de Emilio Renzi”, protagonizados por seu alter ego jornalista e aspirante a escritor. O volume inclui um romance autônomo, “Un día en la vida”, que se refere ao dia em que se passa o romance “Ulisses”, de James Joyce, disse Schavelzon ao “El País”. “Por un relato futuro”, uma série de conversas com o escritor argentino Juan José Saer, também será publicado este ano.
Entre as obras sem previsão de publicação, estão reuniões de contos e ensaios e romances. De acordo com o agente, agora só sairão as obras que Piglia já tinha revisado “ao menos 90%”. Schavelzon explicou que as decisões sobre lançamentos são da víuva do autor, Beba Eguía, sua primeira leitora e responsável pelas revisões pendentes. Todo o acervo de Piglia, digital e em papel, foi doado para a Firestone Library, da Universidade de Princeton, onde ele era professor emérito.
Piglia trabalhou cerca de doze horas por dia, sete dias por semana, para conseguir concluir a empreitada. Ele contou com uma equipe de cinco assistentes numa verdadeira corrida contra o avanço da doença. Com a perda dos movimentos, ele passou a escrever os livros com os olhos, através de um software específico.