RIO – De 1990 a 2015, o número de mortes relacionadas à gravidez e ao parto caiu 44%, diminuindo de 385 falecimentos a cada 100 mil nascidos vivos para 216. O dado faz parte de uma série de pesquisas publicada ontem pela revista científica Lancet, com título “2016 Lancet Maternal Health Series”.
Apesar da diminuição de mortes maternas em quase metade, uma meta dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, da ONU, não foi cumprida: era esperado que, até 2015, a redução fosse de 75%.
Outra notícia ruim é que se houve diminuição nas mortes num quadro geral, a desigualdade entre os países nas piores e melhores posições aumentou. Em 1990, a mortalidade materna nos dez países com níveis mais críticos era 100 vezes maior do que a nos dez países com os melhor níveis; em 2013, esse número foi 200 vezes maior.
Na África Subsaariana, o risco de uma mulher morrer durante a gravidez ou parto é de 1 em 36, enquanto nos países ricos, o número é de 1 em 4900. O novo milênio trouxe uma realidade em que 75% das gestantes têm parto com alguma assistência qualificada, mas 53 milhões de mulheres por ano não têm nenhuma.
A desigualdade, porém, não opõe somente países ricos e pobres. O estudo mostra, por exemplo, que as afroamericanas em Nova York têm duas vezes mais chance de morrer durante o parto do que as mulheres do Leste Asiático.
O estudo aponta que os países com média e alta renda também têm seus problemas particulares, como o excesso de cesarianas, ultrassonografias e uso de antibióticos no pós-parto.
MUudanças climáticas e migração põem em risco a maternidade
Enquanto isso, somente o aborto é responsável, no mundo, por 18% das mortes maternas e cirurgias de emergência.
A cada ano, 210 milhões de mulheres ficam grávidas e 140 milhões de bebês nascem. Estimativas dos pesquisadores apontam uma necessidade adicional de 18 milhões profissionais da saúde até 2030 para cumprir metas da ONU.
Além de obstáculos diretamente relacionados aos procedimentos médicos, o estudo aponta para desafios globais que colocam em risco as novas mães, como as mudanças climáticas, as migrações em massa e os conflitos. Infecções de malária, Zika, cólera e Ebola também são lembradas.
O estudo tem entre os financiadores a Bill & Melinda Gates Foundation e foi liderado por pesquisadores de universidades, instituições e órgãos governamentais na Europa, América do Norte e Argentina. Alguns pesquisadores da USP também colaboraram.