Cotidiano

Morre aos 76 anos o compositor, cantor e violonista Hélio Matheus

64819352_SC - Rio de Janeiro RJ 10-02-2017 - CAPA DO LP de HELIO MATHEUS - Reprodução.jpgRIO ? “Só tomava chá/ Quase que forçado vou tomar café/ Ligo o aparelho vejo o Rei Pelé/ Vamos então repetir o gol!”. “Comunicação”, cantada por Vanusa no Festival da Record de 1969, foi um dos maiores sucessos de Helio Matheus. Figura importante (ainda que pouco badalada) da MPB dos anos 70, o compositor, violonista e cantor morreu nesta sexta-feira no Hospital Lourenço Jorge, na Barra. Ele estava internado há duas semanas em decorrência de uma pneumonia e três AVCs. Longe da mídia, o músico morava desde o mês passado no Retiro dos Artistas, em Jacarepaguá.

Nascido no Rio, em 1940, Helio ganhou um violão do pai aos 12 anos. Após trabalhar em usinas de açúcar ou como balconista em lojas de discos, passou a se apresentar em boites do Rio (como Plaza) e São Paulo, cidade onde morava na mesma pensão que Tom Zé.

Lançou seu primeiro compacto em 1968, mas a consagração viria apenas no ano seguinte, com “Comunicação”, feita em parceria com Édson Alencar (e que, em 1970, seria gravada também por Elis Regina, no LP “Em pleno verão”, e Dóris Monteiro). Era o que faltava para que o compositor ganhasse a atenção de destacados cantores da época.

Em 1974, emplacou dois grandes sucessos nas paradas nacionais: o samba de breque “Camisa Dez” (“É camisa dez da seleção/ laiá, laiá, laiá…”), na voz de Luiz Américo, e a romântica “Meu segredo”, cantada por Antonio Marcos.

Da patota de Hyldon, Tim Maia e Luíz Vagner, entre outros expoentes do sambalanço e do soul brasileiro, Helio foi contratado pela RCA Victor, gravadora em que lançou seu primeiro LP, “Matheus segundo Matheus” (1975).

Com arranjos de Oberdan “Black Rio” Magalhães, Zé Rodrix e Chiquinho de Moraes, além da participação do Azymuth como banda de apoio (era um total de 128 músicos!), o antológico disco trazia pérolas do samba-rock e samba-jazz como “Marraio”, “Miss Kriola” e “Briguenta”. Paredes de metais swingantes e um baixo que batia forte como um sino de catedral davam o tom.

Helio chegou a emplacar uma música na trilha sonora da novela “O Astro” (1977). Era “Boi da cara branca”, inspirada no filho Marcelo e interpretada pelo próprio compositor que, a esta altura, passara ao elenco da Som Livre. Era a garantia de apresentações no horário nobre do Globo de Ouro, no momento de maior fama do músico.

Vieram, porém, a separação de Jane, sua primeira mulher, e outros problemas pessoais. No início da década de 80, Helio rompeu com João Araújo (fundador da Som Livre) e trocou Copacabana por São Paulo, onde foi trabalhar na Sicam, sociedade arrecadadora de direitos autorais. Ainda teve músicas gravadas por artistas como Sérgio Reis e Jair Rodrigues, mas os dias de sucesso já haviam passado.

Casou-se novamente (agora com Tania) e viu nascerem mais duas filhas (Heliana e Luciana), mas o alcoolismo o afastou da família. Nos últimos anos, Helio morou em três albergues públicos de São Paulo, onde tinha sem-tetos como companheiros. Com problemas de locomoção por causa de dois AVCs, aceitou relutante uma transferência para o Retiro dos Artistas. O sepultamento será neste sábado, às 10h30, no Cemitério do Caju.

Joia esquecida e fora de catálogo, o LP “Matheus segundo Matheus” hoje tem aura de cult, alcançando cotações em torno de R$ 3 mil nos sites de vendas.

Helio Matheus