RIO – Dois antigos empregados da equipe de segurança online da Microsoft estão processando a empresa, alegando terem sido forçados a ver fotos e vídeos de ?violações sexuais indescritíveis?, ?brutalidades horrendas?, assassinatos e abusos a crianças, o que resultou em disordens pós-traumáticas severas, de acordo com documentos da ação judicial. Links tecnologia
O processo detalha ainda que o ?conteúdo desumano e nojento? que os empregados precisavam assistir cotidianamente tiveram um impacto psicológico tão grande que os homens ficam tensos apenas ao ver uma criança, e são incapazes de usar um computador sem ter surtos.
A ação judicial, que acusa a Microsoft de ?postura negligente com o estresse emocional?, joga luz sobre o oculto mundo da moderação online, em que pessoas são responsáveis por detectar e reportar conteúdos ?feitos para entreter as pessoas com as mentes mais bangunçadas e doentes do mundo?. Caso o processo seja bem sucedido, pode abrir precedentes para que outras empresas do ramo sejam também confrontadas.
?É horrendo. Já é ruim o suficiente apenas ver uma criança ser molestada sexualmente. E então há também assassinatos. Coisas indescritíveis são feitas a essas crianças?, afirmou ao jornal inglês ?The Guardian? o advogado Ben Wells, um dos envolvidos no caso, sob a jurisdição do estado de Washington, onde fica a sede da Microsoft.
A Microsoft afirmou em nota ?discordar? das alegações das ações, acrescentando que ?leva a sério sua responsabilidade de remover e reportar conteúdo com exploração sexual de crianças e abuso sendo compartilhado em seus serviços, assim como a saúde e a resiliência de empregados que desempenham este importante trabalho?.
Henry Soto e Greg Blauert trabalharam na equipe de segurança online da empresa, responsável por cumprir uma legislação de 2008 que exigiu que empresas de tecnologia reportassem a presença de imagens de pedofilia e outros crimes. Segundo documentos do processo, a Microsoft não os alertou sobre os possíveis prejuízos nesta linha de trabalho e seu potencial para ?danos debilitantes?.
Apesar da empresa ter criado um programa para o bem-estar dos funcionários e oferecido aconselhamento, a assistência foi insuficiente para atenuar o trauma sofrido pelos homens, aponta o processo.
Soto, por exemplo, relatou a psiquiatras distúrbios do sono, pesadelos, ansiedade e ?um vídeo interno em sua cabeça onde ele podia ver imagens pertubadoras?. Com o passar do tempo, ele passou a ter alucinações visuais, ataques de pânico em público e depressão. Eventualmente, Soto pediu licença médica.
?Um dos pontos críticos para ele são as crianças. Às vezes, ele não consegue olhar para seu próprio filho. Ele não pode ver uma faca na cozinha. Não consegue ver computadores?, acrescentou Wells.
Blauert teve um surto físico e mental em 2013, quando já estava sofrendo de um ?choro incurável, insônia, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático?. Hoje, ele fica vulnerável quando vê adultos que se parecem com ?abusadores em potencial? e ?teme pela segurança das crianças que ele encontra?. Blauert não conseguiu voltar a trabalhar.
Os homens estão pedindo indenizações e pedem melhorias para os empregados de equipes de segurança online, como rodízios obrigatórios na área, mais tempo livre, encontros semanais com terapeutas e um programa de bem-estar em família.
Wells destacou que as empresas precisam fazer muito mais por empregados que estão ?desempenhando um trabalho heróico?. ?Eles salvaram vidas de crianças. Eles colocam pessoas na prisão que mereciam ser presas. O público precisa entender que este trabalho não é feito por computadores?, completou.