PARATY ? Na conferência de abertura da 14a Festa Literária Internacional de Paraty, os amigos Armando Freitas Filho e Walter Carvalho trataram de cinema, poesia e a homenageada do evento, a poeta Ana Cristina Cesar. Mas foi um breve verso político dito por Freitas Filho que mais empolgou e arrancou aplausos da plateia. Links Flip
? A poesia toca as coisas monstruosas. Pode tocar um Temer, por exemplo ? disse o poeta carioca, de 76 anos.
A mesa, com o tema “Em tecnicolor”, foi mediada pelo poeta Eucanaã Ferraz. Diferentemente do que costuma acontecer na abertura da Flip, a conversa de 40 minutos foi mais concentrada nas artes dos debatedores, o cinema e a poesia, do que na homenageada. Freitas Filho e o cineasta Walter Carvalho são amigos, e este último realizou recentemente o documentário “Manter a linha da cordilheira sem o desmaio da planície”, sobre o poeta ? o filme foi exibido na Tenda dos Autores, o palco principal da Flip, logo após a mesa.
Eucanaã, então, buscou as relações entre eles. A primeira pergunta foi sobre o que haveria de poesia no cinema de um e de cinema na poesia do outro.
? Eu gosto muito de Godard. Ele é poesia, para mim é o cineasta que mais tem esse sumo, esse impulso, ele tem a surpresa da poesia ? disse Freitas Filho.
? Desde pequeno ouço na Paraíba que, quando alguém fala alguma coisa de interessante, é um poeta. Nunca ouvi dizer que é um cineasta ? brincou Carvalho.
Os amigos continuaram abordando suas artes e trocaram afetos. Freitas Filho chamou Carvalho de “cinepoeta” logo depois de o diretor afirmar ser “um patinho feio, uma pessoa de imagem” numa festa da palavras. Sobre seu documentário, Carvalho explicou que a motivação inicial foi um verso de Freitas Filho que ele leu: “Uma gaivota que passa riscada a lápis”.
? Eu tinha curiosidade em saber como vive um poeta. Anda de ônibus? De táxi? Vai a banco? Ao supermercado? Abre a janela para a inspiração entrar? ? disse Carvalho.
A homenageada foi citada apenas no quarto final da mesa. Freitas Filho, que foi o melhor amigo da poeta, morta em 1983, e hoje é curador de seu acervo sob a guarda do Instituto Moreira Salles, lembrou de quando conheceu Ana, ela com 20 anos, ele 12 anos mais velho.
? O que me impressionou logo foi a maneira instigante como ela nos provocava a falar e ouvir. Era forte e até incômodo ? disse.