Identificado pela primeira vez no Brasil em 1954, na região Amazônica, o vírus Mayaro tem gerado preocupação entre pesquisadores. A bióloga Clair Viecelli é quem fez o alerta, durante o III Seminário Controladores de Pragas Urbanas do Oeste e Sudoeste do Paraná, na Acic (Associação Comercial e Industrial de Cascavel), e garante que aos poucos ele avança e pode chegar também a Cascavel, já que o vetor é um velho conhecido: o Aedes aegypti.
A transmissão do vírus ocorre por meio da picada do mosquito, que vive geralmente em matas e vegetações à beira de rios, onde há presença de macacos – a transmissão em área urbana não é descartada.
De acordo com o Ministério da Saúde, quando o mosquito pica um macaco doente, ele adquire o vírus e, depois de um ciclo em seu organismo, se torna capaz de transmitir a outros macacos e ao homem. É válido destacar que a doença é transmitida somente pela picada de mosquitos infectados com o Mayaro, ou seja, ela não transmite de pessoa a pessoa ou de animais a pessoas.
Conforme Clair, exames feitos em macacos na costa do Paraná e também de Santa Catarina tiveram diagnóstico positivo para o vírus. “Este é um dos vírus novos que o mosquito está transmitindo. Quase ninguém fala no Mayaro, que já existe na região Centro-oeste do Brasil, com confirmação em humanos. O vírus de espalha de forma lenta, e por enquanto não é tão grave porque no Paraná ele só foi diagnosticado nos primatas. Porém, com o macaco já contaminado há a chance de transmissão”, explica a bióloga.
De acordo com o enfermeiro da 10ª Regional de Saúde de Cascavel, Daniel Loss, não há nenhum registro de circulação do vírus Mayaro – que provoca doença semelhante à chikungunya, a Febre do Mayaro – no município, nem mesmo em primatas. “A gente sabe que é um vírus antigo, que circula na região Amazônica, na Venezuela, na Guiana, porém, aqui não temos conhecimento de sua presença, já que o Mayaro não é endêmico daqui”, afirma.
Gerenciamento
Apesar de não haver, por enquanto, registros da doença tanto em macacos quanto em humanos, Clair reforça a necessidade de fazer um plano de gerenciamento e controle do Aedes aegypti.
“É preciso entender o mosquito para conseguir controlá-lo. O Aedes tem 60 milhões de anos, surgiu na Era Jurássica, e é muito evoluído, se adapta facilmente a qualquer ambiente. Não podemos menosprezá-lo, é uma questão de tempo para o Mayaro chegar aos humanos”, comenta.
Uma sugestão da bióloga é avaliar a saúde dos primatas nos zoológicos, por exemplo, com exames sanguíneos.
Números
Clair explica que a Febre do Mayaro pode matar, igualmente como a dengue, zika e chikungunya. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, registros de casos suspeitos da doença em humanos ocorreram entre dezembro de 2014 e janeiro de 2016, com 343 notificações, todas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, com destaque para Goiás (183), Pará (68) e Tocantins (25). As pessoas infectadas estiveram ou moravam em áreas rurais, silvestres ou de mata. Entre as suspeitas, 29 foram confirmados. “Embora não se tenham dados no Paraná, temos de lembrar que o Mayaro é letal”, diz.
Prevenção e tratamento
As formas de prevenção da doença são semelhantes as da dengue, já que o vetor é o mesmo. A orientação é evitar exposição com corpo desprotegido em locais de mata e beiras de rios, principalmente nos horário de maior atividade do mosquito – entre 9h e 16h, além do uso de repelentes. Deve-se ainda promover ações preventivas como evitar o acúmulo de água em recipientes, manter terrenos e quintais limpos e descartar corretamente o lixo. Não há tratamento específico contra a Febre do Mayaro, nem vacina para preveni-la. O médico trata apenas os sintomas característicos, como dores no corpo e na cabeça.