Cotidiano

Mark Lawrence, executivo: 'A cena está voltando para o subterrâneo?

?Tenho 44 anos e vivo para a música eletrônica, com a qual entrei em contato
em 1988, quando tinha 15. Meu trabalho hoje com a Associação envolve lutar pelo
correto recolhimento de royalties, combater as políticas de drogas que não
funcionam e trabalhar pelo aumento de oportunidades no mercado da música.?

Conte algo que não sei.

Entre abril e maio vamos lançar a nossa primeira campanha sobre drogas na
América do Norte, que, esperamos, logo vire algo global. Não dá para ter leis
que impeçam os garotos de buscarem tratamento, uma vez que eles têm medo de ser
presos. Nosso esforço é para salvar vidas. Em alguns eventos na América do Sul,
ainda vemos mortes que poderiam ser evitadas apenas com conversas adultas ou com
testes de drogas, para evitar que jovens tomem decisões ruins.

Os frequentadores de festas de música eletrônica estão expostos a
drogas piores do que as que havia antes?

As pílulas de ecstasy estão cada vez mais fortes. Em 1989, uma apenas era o
suficiente para uma noite. Hoje, uma pílula tem que ser quebrada em quatro
partes, porque se alguém toma uma inteira, pode até morrer. Além disso, as
festas hoje ocorrem durante o dia, sob altas temperaturas, perigosas para quem
toma drogas.

Dá para não associar a música eletrônica às drogas?

Nem acho que isso seja algo só da música eletrônica. Desde que as pessoas se
juntaram para dançar, celebrar e conversar, elas vêm recorrendo a diversas
substâncias, do peiote e tabaco ao álcool ou cogumelos. Seja jazz, rock ou
clássico, você não vai encontrar um gênero musical que não esteja associado a
alguma substância.

Em que estágio o Brasil está hoje como mercado para a música
eletrônica?

O Brasil é um país interessante, com selos e clubes muito influentes, mas que
são poucos em relação às milhões de pessoas que amam a música eletrônica. É
necessário que haja mais clubes pequenos, em que o DJ europeu vá e depois tenha
vontade de voltar por um cachê menor. Uma turnê brasileira de um DJ passa por
oito a dez casas, quando deveria passar por 20, 30.

Os clubes então são mais importantes para a música que os grandes
festivais?

Vemos que, globalmente, os festivais explodiram. Mas
eles andam de mãos dadas com a EDM, aquela música comercial, que foi planejada
para uma festa americana superdimensionada, diferente da música eletrônica
original, dos porões escuros com luzes estroboscópicas. A EDM ficou algo tão
grande que não é mais uma rebelião. Assim, a cena está voltando para o
subterrâneo, para os clubes.

E o fenômeno dos DJs estelares, que tomaram o lugar dos astros de
rock?

Minha preocupação é que eles estão tentando ficar ricos muito rápido, sem
tempo para se aperfeiçoarem. Muitos dos grandes DJs de hoje levaram mais de dez
anos para chegar ao palco principal.

Quando foi a última vez que um DJ salvou a sua vida?

Foi em outubro, com Daniel Miller, da Mute Records, num clube em um porão em
Xangai. Ele parecia o avô de alguém, mas tocou o techno mais invocado que eu
ouvi em muitos anos. As 35 pessoas que viram sabiam que estavam vivendo um
momento único.

Há muitas festas de música eletrônica na Ásia?

Sempre houve uma cena underground lá, e agora os grandes festivais estão
chegando à China. Hoje, a dance music está também em quase todos os países
islâmicos. Paquistão, Afeganistão e Irã têm raves escondidas, já que são
ilegais, e com alguns DJs incríveis.