?Nasci na República Tcheca e hoje moro na Alemanha, onde dou aulas na Academia de Artes de Düsseldorf. Tenho duas filhas, uma advogada e uma que trabalha com cinema. Não aconselharia ninguém a ser artista, é uma vida muito difícil. Eu faço porque me sinto forçada. Ficaria perdida sem arte.”
Conte algo que não sei.
Você conhece o Leste Europeu? Nós temos um jeito poético, gentil e muito profundo. Vamos até as profundezas e gostamos de brincar com as palavras. Na época do despotismo, aprendemos a ler nas entrelinhas do que estava escrito e a entender não apenas o que estava no texto. Não era permitido falar de forma clara.
Há um traço comum entre seu trabalho e o de outras mulheres da região?
Nós ainda estamos falando do que foi nossa vida lá, do desastre da nossa situação. Novas democracias chegaram na região nos últimos anos, e estamos muito felizes com a mudança. Agora aprendemos como é difícil manter a democracia, porque ela é um dos o sistemas mais frágeis que existem, mesmo que não seja possível ter algum outro melhor. Para esse sistema, é muito importante ter discussões, e isso pode ser visto na arte. Não estamos fazendo itens decorativos, gostamos de ter um contexto. Não é uma arte conceitual, é arte contextual.
Como foi estudar arte num governo totalitário?
Não era possível saber sobre arte contemporânea nem ver o que era arte em outros países. Não éramos informados. Tudo era manipulado.
Como a política afeta a produção artística?
Profundamente. O artista é como um espelho da sociedade. Ele pega as informações e as coloca para fora. Nós estamos sempre observando o ao redor.
E qual a diferença entre a arte de uma democracia e a arte de uma ditadura?
É só olhar a necessidade de cada governo despótico. Nos tempos de Hitler, por exemplo, predominavam esculturas sobre a perfeição e poder do corpo e a beleza do sistema. O mesmo pode ser visto no comunismo russo, com as referências a Lênin. Tudo era personificado. Essa manipulação acontece até em países democráticos. O que precisamos é mostrar diferentes pontos de vista, e não só a perspectiva do poder.
Qual deve ser o espaço da arte na política?
Cada país que se esquece da sua arte, perde sua história e seu conhecimento. É muito perigoso ignorar a arte. Sem arte, perde-se tudo. As coisas tomam um rumo que só priorizam a ordem. Se você tem ordem, é apenas isso, não é criativo. Tentamos ver um jeito diferente, além das regras.
A imigração afeta o senso de pertencimento?
Ser imigrante não é tão simples. Não é só uma mudança de espaço. A coisa mais bonita que já ouvi sobre imigração é uma frase que diz: ?O que é casa? Casa é onde eu posso pendurar meu casaco.? As origens não se perdem. Visitei parte da minha família, que mora em São Paulo, e escapou antes do nazismo. Foi ótimo conversar com essas pessoas, ter discussões sobre a vida.
E como é voltar para o seu país de origem?
Gosto de voltar. Mas ainda vejo o resultado desse fechamento de muitos anos. As pessoas ainda não estão envolvidas com a democracia. Ela significa mudança para algo mais humano, não é fácil de aprender.
Como arte e tecnologia se misturam?
Tive contato com a tecnologia de uma forma particular, um assunto que só quero entender até o ponto que possa aplicar à minha linguagem. As gerações mais novas estão tomadas pela virtualidade e sobra pouco tempo para a vida real. O perigo sempre está no ponto em que se perde humanidade.