“Sou bacharel em Letras pela PUC-SP e bacharel em Direito pela USP, onde fiz
também mestrado em Direito Internacional. Iniciei minha carreira no setor
jurídico, em empresas da área de serviços e tecnologia, em 1996, até chegar ao
setor hoteleiro,11 anos atrás. Sou casada e mãe de um filho. Uma de minhas
paixões é viajar. Adoro esquiar.”
Conte algo que não sei.
Na França, as mulheres estão em menor número na área gerencial, com a meta de
chegar a 35% dos cargos até 2017. Na América do Sul, em cargo gerencial, estamos
igualitários. Não sei se é a mentalidade do brasileiro. Não há uma explicação
para isso. Talvez pelo tipo de gestão, com as mulheres sendo mais estimuladas e
tendo mais oportunidades.
Qual é, hoje, o principal desafio das mulheres no mercado de
trabalho?
A realidade da mulher é sempre dividida. Ela quer buscar o lado profissional,
porque gosta do que faz. Mas tem sempre a questão de conciliar com o lado
pessoal, dos filhos e do marido. É um dos desafios que nós, mulheres, temos. E
isso vale para as executivas e para a base, como as mulheres que trabalham como
camareiras, garçonetes, na cozinha, na limpeza e no restaurante. Todas passam
por esse mesmo dilema existencial. Não importa o nível em que esteja.
Mas as empresas podem ajudar nesse sentido, de conciliar as
agendas?
É importante as empresas ajudarem as mulheres nessa caminhada de crescimento
na carreira, de conciliação. É preciso criar projetos, apoiar com ações que são
relevantes para o desenvolvimento profissional e para reter talentos. Sem o
apoio da empresa e sem conseguir auxiliar, a mulher ou desiste da carreira ou
larga o emprego. E não dá aquele passo a mais para crescer, para ter cargos e
salários melhores.
Mas qual é o desafio?
Os homens ainda estão nos cargos mais altos (diretoria). Na empresa em que
trabalho são 12 diretores, três são mulheres. Há muitas mulheres em cargos
gerenciais. Elas são 50%. Hoje na empresa não há diferença de salário, mas temos
o desafio de fazer as mulheres crescerem, atingirem cargos de diretoria, irem
além do nível gerencial.
Como vencer essa barreira?
Elas vão bem até certo ponto. De repente, quando chega a hora de ter um
filho, por exemplo, e quando ela tem que pôr uma energia maior, aí o homem
decola e a mulher estabiliza. Mas, se ela tem apoio nessa hora, com horário
flexível, talvez uma licença maior, uma compreensão com essa vida dupla,
consegue-se reter esse talento. Se ela tem que pegar o filho na escola, pega o
computador depois e trabalha. São coisas pequenas que fazem muita diferença.
Temos um projeto para ter uma extensão de licença-maternidade. Hoje, são quatro
meses. Estamos estudando ampliar.
Mas as mulheres estão cada vez mais preparadas.
As mulheres estão muito bem
preparadas. Muitas vezes têm formação superior à dos homens. O difícil é manter
esse ritmo, porque, dependendo da fase da vida da mulher, isso se dispersa. Para
o homem é mais fácil. O foco é a carreira e acabou. O homem tem o drive
do trabalho. E é valorizado por isso. E, como a mulher tem outras facetas, o
desafio é ter perseverança, não desistir no meio do caminho.
É a favor de cotas para mulheres?
Sou contra cotas. Que vença o melhor. A mulher só precisa dessa flexibilidade
em alguns momentos. Não é toda hora. O que as empresas têm feito em processo de
seleção é que 50% das candidatas sejam mulheres. Dessa forma a escolha pode ser
mais justa.