BRASÍLIA – Líder da minoria no Senado, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) acabou protagonizando o primeiro embate direto com o juiz Sérgio Moro, com réplicas é tréplicas. O petista criticou as ações de Moro no caso da conduções das investigações contra o ex-presidente Lula e na divulgação de áudios de conversas de Lula e a ex-presidente Dilma Rousseff. Agitado e movendo os braços, Lindbergh disse que Moro agiu de forma ilegal ao divulgar as gravações.
– Tem abuso de autoridade no Judiciário também. O caso do presidente Lula, das conduções coercitivas. Ele não iria depor? No caso do Lula, o que fizeram? Um grande espetáculo. O senhor disse que era para garantir a segurança do Lula e o levou para o aeroporto, mas houve briga de grupos lá. E a divulgação das conversas é inaceitável. Para quê divulgar as conversas da primeira-dama (Marisa Letícia), da sua nora, conversas íntimas? – questionou Lindbergh.
Irônico, o petista exemplificou:
– Vossa Excelência gosta muito dos EUA. Mas imagina um juiz do Texas gravar uma conversa do Bill Clinton e divulgar?!
E disse que Moro agiu de forma ilegal ao divulgar a gravação de Lula, que teria sido feita depois da hora do encerramento da operação.
– Foi uma gravação ilegal. Vivemos uma escalada autoritária, atentado ao estado democrático de direito. Uma lei contra abuso de autoridade é uma necessidade, é uma urgência – defendeu.
O petista disse que o PT e organizações se esquerda são perseguidos na Lava-Jato.
– Está na cara que tratam as organizações de esquerda e o PT de forma diferenciada. Rui Barbosa dizia: a pior ditadura é do Judiciário, porque contra ela não há a quem recorrer – afirmou o senador.
Prestando atenção, Moro pediu direito de resposta.
– Fico preocupado. Há essa afirmação de que o projeto não tem nenhuma intenção de frear a Lava-Jato. Mas está se afirmando que cometi abuso e que devo ser punido. Há uma intenção clara que seja utilizado especificamente para criminalizar pessoas da Lava-Jato. Ficou claro no discurso do senador – disse Moro, ressaltando:
– É essa a intenção do projeto ou não é?
O juiz disse que suas decisões foram chanceladas por tribunais, inclusive o Supremo Tribunal Federal (STF).
Lindbergh rebateu, em seguida.
– Só quis dizer que isso não está acima da lei. Vossa Excelência é uma autoridade que não está acima da lei, assim como nós – disse o senador.
Em réplica, Moro garantiu que nunca teve a pretensão de estar acima da lei.
O senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO) tentou reclamar do debate na sessão, mas o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), perdeu a paciência.
– Se essa sessão não é um debate, o que é?
Pouco antes, Renan até defendera Moro.
– Não há como comparar as Mãos Limpas com a Lava-Jato, em favor da Lava-Jato – dissera Renan.