WASHINGTON – Christine Lagarde, diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), elogiou na manhã desta quinta-feira as reformas que o Brasil está debatendo, como o ajuste fiscal, com a criação de um teto para as despesas públicas, e a reforma da Previdência. Ela afirmou, em entrevista coletiva na capital americana, que o país pode restabelecer a estabilidade e voltar a uma fase mais próspera:
? O que vemos é um país enorme da América Latina que está entrando em um território positivo, em um momento diferente da antiga contração que havíamos observado – disse ela. – Constatamos que neste momento estão sendo debatidas políticas, algumas delas fiscais e outras reformas estruturais que, na nossa opinião, estabilizarão o país e o levará a uma situação mais próspera.
Ela disse que a recuperação do Brasil é fundamental para toda a região, lembrando que a previsão é que toda a América latina tenha recessão de 0,6% neste ano, puxada pelo Brasil e pela Venezuela. O FMI estima retração de 3,3% neste ano e crescimento de 0,5% no Brasil em 2017. Questionada sobre as diferenças de previsões – ontem o Banco Mundial estimou recessão de 3,2% no Brasil neste ano e alta de 1,1% para 2017 -, Lagarde afirmou que isso se deve a metodologias e referências diferentes que são utilizadas por cada instituição.
Na coletiva que se seguiu à apresentação de sua agenda, Lagarde começou seu posicionamento lamentando o furacão Matthew e informou que o FMI está pronto para ajudar mais o Haiti, um dos países mais afetados pela tormenta. Ela afirmou que vai tentar motivar todos os ministros de Fazenda e presidentes de bancos centrais que participam do encontro do FMI, que vai até domingo, a agirem:
– O meu recado às autoridades que virão à reunião anual do FMI será: por favor, comecem a se mexer. Cada país pode fazer sua parte para ampliar o crescimento, que foi muito baixo, por muito tempo, beneficiando muitas poucas pessoas – disse ela.
Lagarde informou que os países com margem fiscal para investir mais, sem criar desequilíbrios, são, por exemplo, Canadá, Alemanha e Coreia do Sul. Ela disse que a inclusão social esperada por muitos países só será alcançada com crescimento econômico. Lagarde anunciou a prorrogação, até 2018, de uma série de financiamentos a países pobres com taxa zero de juros, para incentivar a economia destas nações, sobretudo na África.
Questionada sobre o impacto da eleição americana na economia mundial – o candidato republicano Donald Trump afirma ser contra a globalização e a favor do protecionismo, algo que está sendo criticado, de maneira geral, pelo Fundo – Lagarde evitou entrar em polêmicas:
– Não faço nenhum comentário sobre a eleição americana, apenas lembro que o comércio sempre foi um dos grandes motores do crescimento – disse.
Na entrevista coletiva, Lagarde foi duramente questionada sobre duas questões: excesso de rigor fiscal com a Grécia, que impede o país de crescer, e as previsões muito pessimistas sobre o Brexit – a saída do Reino Unido da União Europeia em plebiscito decidido em junho – que acabaram não ocorrendo. Ela afirmou que nas próximas semanas enviará uma equipe á Grécia para analisar a situação do país. Sobre o Reino Unido ela disse que exisitam muitos cenários para o Brexit e que, felizmente, atualmente está se parecendo com o mais suave.