Cotidiano

Juro ao consumidor dispara em 12 meses mesmo com Selic estável

cartao de credito.jpg

SÃO PAULO – Enquanto a taxa Selic se mantém estável em 14,25% ao ano há praticamente 12 meses (ela chegou a esse patamar em 30 de julho de 2015), os juros cobrados ao consumidor tiveram aumento expressivo no último ano, refletindo a piora do ambiente macroeconômico e, consequentemente, aumento o risco dos bancos perderem dinheiro nas operações de crédito.

juros_2007

Um dos casos mais significativos é a taxa cobrada no cheque especial. Em junho do ano passado, a taxa média era de 246,91% ao ano e, no último dado disponibilizado pelo BC (maio), já estava em 311,31%, uma diferença de 64,4 pontos percentuais.

Ricardo Almeida, professor de finanças da Fundação Instituto de Administração (FIA), explica que isso ocorre porque embora a taxa básica seja referência para o custo de captação dos bancos, o que é cobrado na ponta, para os consumidores, leva em conta o risco de crédito do tomador, que piorou devido à crise econômica.

? A Selic serve para o BC conseguir controlar a inflação, já as taxas cobradas pelos bancos olham o risco do tomador. Com a economia em contração, a Selic pode até cair, mas com a economia ruim o desemprego está maior, o que aumenta a expectativa de inadimplência. Em momentos de recessão, o risco de crédito é maior e as taxas sobem ? explicou.

A taxa de desemprego do país já supera os 11% e ainda pode subir mais segundo a expectativa dos especialistas. Aliado a isso, a inadimplência (atrasos acima de 90 dias) entre as pessoas físicas chegou a 4,3%, ante 3,8% 12 meses antes.

Outras linhas de crédito ao consumidor também tiveram altas expressivas. A taxa média do cartão de crédito (que considera rotativo e parcelado) subiu de 90,19% ao ano em julho de 2015 para 117,56%, ou 27,37 pontos percentuais.

O economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito (Acrefi), Nicola Tingas, lembra que desde 2015 os bancos estão ficando mais cautelosos com a concessão de crédito, se antecipando ao cenário de deterioração da economia. Quando isso acontece, além de maiores empecilhos para a liberação de novos empréstimos, a regra geral é subir as taxas.

? Desde 2015 os bancos já viam uma economia mais fraca e os clientes aumentando os atrasos no pagamento. Com isso, passaram a pedir um prêmio de risco maior, em especial em determinadas modalidades, como o cheque especial. É uma forma de repor as perdas com atraso e também não incentivar o uso ? avaliou.

GARANTIA PERMITE JURO MENOR

Tingas considera que o início da retomada econômica está próximo, mesmo que ocorra de forma lenta. Com isso, há espaço para, no futuro, uma redução das taxas.

? No mercado de juros, já há uma sinalização desse movimento. Os prêmios de risco já estão fechando. Ainda tem desemprego, mas grande parte do ajuste já ocorreu ? afirmou.

As menores elevações foram registradas nas linhas com algum tipo de garantia. A taxa do consignado (em que o valor da prestação é descontado direto do salário do trabalhador) passou de 27,78% ao ano para 29,64% ao ano, ou apenas 1,86 ponto percentual. O financiamento de veículos (que pode ser retomado em caso de não pagamento) também ficou mais caro, de uma taxa média de 24,5% ao ano para 26,33% ao ano, ou 1,83 ponto percentual.

Essas taxas são mais em conta porque em caso de inadimplência, o banco consegue recuperar o bem. Mesmo que o valor desse bem sofra uma desvalorização, uma parte do valor do empréstimo ainda será recuperada, diferente das outras linhas.