BARCELONA ? O início do julgamento do ex-presidente catalão Artur Mas reuniu dezenas de milhares de pessoas nesta segunda-feira em Barcelona. O político é investigado por desobediência ao organizar uma consulta sobre a independência da região espanhola em 2014. A ampla avenida do Palácio de Justiça virou um mar de bandeiras independentistas, em que os manifestantes entoavam o grito: ?Fora a Justiça espanhola!?.
Mas e as outras duas pessoas acusadas chegaram com quase meia hora de atraso ao tribunal. Ele estava acompanhado por muitas autoridades catalãs, incluindo seu sucessor, Carles Puigdemont.
? Aqui não se julga a independência, se julga a democracia ? disse Mas em uma pausa do julgamento. ? É a primeira vez que um governo democrático é julgado por ter deixado o povo votar. É um momento sem precedentes.
No tribunal, Mas assumiu ter sido o maior responsável pela consulta independentista de 2014. Ele apenas respondeu às perguntas do seu advogado.
? Fui o máximo responsável. Sou responsável por ter desenvolvido um processo participativo e dado instruções para que as pessoas pudessem participar
Mas ocupou o cargo de presidente catalão entre 2010 e 2016. Ele deverá responder por supostos crimes de desobediência grave e prevaricação por organizar uma consulta independentista sem efeitos jurídicos. Junto com ele, são julgadas sua vice-presidente, Joana Ortega, e a ex-responsável de Educação Irene Rigau. A Procuradoria pede 10 anos de inabilitação para exercer cargos públicos para Mas e nove para suas duas colaboradoras.
Na época da votação, o Tribunal Constitucional ordenou a suspensão da consulta poucos dias antes da data marcada. No entanto, o Executivo, ajudado por milhares de voluntários, seguiu adiante com a votação. Participaram da consulta 2,3 milhões de pessoas, em uma região que tem no total 7,5 milhões de habitantes.
Embora os voluntários tenham administrado o dispositivo no dia da consulta, o governo catalão se envolveu na preparação para a votação: forneceu o material necessário, comprou 7 mil computadores, abriu as escolas públicas, colocou em andamento o dispositivo informático e fez campanhas informativas. O julgamento deve se prolongar até sexta-feira no Tribunal Superior de Justiça da Catalunha. Os três acusados, que depõem neste primeiro dia, já afirmaram que recorrerão até o Tribunal Europeu de Direitos Humanos (TEDH) se forem inabilitados.