HONG KONG ? Em Hong Kong, uma nova geração de políticos favoráveis à ruptura com Pequim conseguiu entrar no Parlamento local. A conquista veio com a vitória nas primeiras eleições desde o surgimento da Revolução dos Guarda-Chuvas, que levou milhares às ruas em manifestações pró-independência em 2014. Um recorde de 2,2 milhões de pessoas compareceram às urnas na cidade semiautônoma ? onde cresce a sensação de que a China está endurecendo o controle em temas políticos e culturais.
Quatro candidatos que defendem o rompimento com Pequim conseguiram entrar para o Conselho Legislativo. Outro postulante também pode conquistar uma vaga, segundo os primeiros resultados.
Um dos líderes mais conhecidos da Revolução dos Guarda-Chuvas, Nathan Law está entre os parlamentares. O seu partido, o Demosisto, defende a organização de um referendo sobre a integração à China.
? Acredito que os verdadeiros cidadãos de Hong Kong queriam uma mudança ? disse Law, de 23 anos, que foi o segundo mais votado em sua circunscrição, atrás de um candidato favorável a Pequim. ? Os jovens têm um senso de urgência sobre o futuro.
Law optou por um discurso conciliador, na tentativa de unificar a oposição tradicional ao governo chinês e a nova corrente política. Antes, ele havia estabelecido uma distância dos setores mais radicais do movimento denominado como “localista”.
? Temos que estar unidos contra o Partido Comunista (Chinês) ? disse à AFP.
Muitos candidatos abertamente partidários da independência não foram autorizados a disputar as eleições, depois que as autoridades argumentaram que fazer campanha pela independência é uma atividade ilegal. Por isso, para participar da eleição, alguns deles evitaram mencionar a palavra e passaram a utilizar o termo “autodeterminação”.
Yau Wai-Ching, candidata do novo movimento Youngspiration, que defende o direito de Hong Kong de “falar de soberania”, também foi eleita. Outro candidato do partido, Baggio Leung, de 30 anos, também deve entrar no Parlamento com um discurso repleto de referências à independência.
Para o analista político Joseph Cheng, estas eleições se caracterizam especialmente por uma mudança intergeracional de líderes políticos. A participação foi de quase 60% dos 3,7 milhões de eleitores. Em 2012, a votação teve índice de comparecimento de 53%.
? Houve um recorde de pessoas que emitiram seu voto este ano ? disse à imprensa o presidente da Comissão de Assuntos Eleitorais, Barnabus Fung.
Em alguns locais de votação as filas prosseguiram na madrugada desta segunda-feira, várias horas depois do horário previsto para o fechamento das urnas.
OPOSIÇÃO COM DIREITO A VETO
No entanto, a maior parte da oposição tradicional, que é favorável à democracia, não apoia a independência. E o avanço dos candidatos que defendem a ruptura pode prejudicar sua presença no Parlamento.
Das 70 cadeiras no Parlamento, apenas 35 são definidas por eleição direta e representam circunscrições. Enquanto isso, outras 30 procedem de grupos profissionais favoráveis a Pequim. E outras cinco, as chamadas “super cadeiras”, são eleitas por voto popular, mas sem relação a um território.
A oposição moderada pró-democracia tem 27 cadeiras, o que lhe permite exercer uma minoria de bloqueio. A redução da força política do grupo reforçaria a hegemonia de Pequim a curto prazo ? mas, a longo prazo, poderia legitimar o discurso dos favoráveis à independência. Os primeiros resultados eleitorais, no entanto, mostram que os dois lados podem coexistir e que a oposição tradicional poderia conservar o seu direito ao veto.