Cotidiano

Jornais estrangeiros destacam violência no massacre de Manaus

RIO ? Vários jornais estrangeiros continuam, nesta terça-feira, a dar destaque ao massacre que deixou 60 detentos mortos desde domingo nas prisões em Manaus. Todos os períódicos ressaltaram a precariedade das prisões brasileiras e a violência do confronto com presos esquartejados e decapitados.

No Reino Unido, a BBC fala da fuga em massa de presidíarios e lembra que o Brasil tem a quarta maior população carcerária do mundo. “A superlotação é um problema sério e os motins violentos são frequentes no Brasil”, diz a reportagem que relatou ainda que seis corpos sem cabeça foram jogados sobre a cerca da prisão no início do confronto no domingo.

O argetino Clarín destacou a brutalidade do massacre e o favorecimento da violência pelo própio sistema carcerário brasileiro. O jornal ressaltou que no presídio havia 1224 presos, enquanto a capacidade era para 454. “Esse sistema, dizem os especialistas, viola os direitos fundamentais das pessoas e as submete a condições extremamente precárias de vída no cárcere”, informa a reportagem que lembrou ainda que, em outubro, durante inspenção no complexo penitenciário, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) já havia alertado para as péssimas condições e para a incapacidade de ressocialização de presos.

Cinquenta e seis detentos foram mortos durante a guerra entre facções no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj) iniciada no domingo, e encerrada na manhã de segunda-feira. Outros quatro presidiários foram mortos no final da tarde na Unidade Prisional do Puraquequara (UPP), também na capital.

Além da rebelião foram registradas 184 fugas no sistema prisional. No Instituto Penal Antônio Trindade (Ipat), 72 presos fugiram, e no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), 112. Até às 17h de segunda-feira, 40 presos foram recapturados.

O El País, da Espanha, lembrou que a Região Norte tem rotas fundamentais para o tráfico de drogas em todo o continente.

“A região norte do Brasil é fundamental para o tráfico de drogas internacional. As principais rotas de transporte da droga passam por ali. o Amazonas faz fronteira com países grande produtores de cocaína como Peru, Colômbia e Venezuela”, informou o periódico.

O USA today, jornal de maior circulação nos Estados unidos, trouxe o massacre na capa da sua edição digital. O jornal publicou entrevista com José Vicente da Silva, ex-secretário nacional de segurança pública, que disse que o massacre foi resultado da severa recessão do Brasil e da má gestão do sistema prisional.

“Desde 2014, os homicídios nas prisões do Amazonas são o dobro da média nacional, e no ano passado reduziram seu orçamento de segurança pública em 50% devido a medidas de austeridade. Este incidente é uma repetição em uma escala maior “, disse Da Silva. “Todos os anos morrem 500 presos em prisões brasileiras. Com a crise econômica atual e os cortes no orçamento, as gangues ficam ainda mais ousadas “.

O também americano Washington Post descreveu o ocorrido como um desatre sangrento e ressaltou que grupos de direitos humanos criticam a violência e a superlotação das cadeias no Brasil.