A Itaipu Binacional promoveu nesta terça-feira (20) um debate sobre a viabilidade da hidrovia Paraguai-Paraná. O tema foi discutido em um evento paralelo do Fórum Mundial da Água, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília.
O debate contou com a participação do ministro de Obras Públicas e Comunicações do Paraguai, Ramón Jimenez Gaona Arellano, dos diretores de Coordenação da Itaipu, Newton Luiz Kaminski (Brasil) e Pedro Domaniczky (Paraguai), do gerente de projeto do Ministério de Minas e Energia, Igor Souza Ribeiro, do diretor de Infraestrutura Aquaviária do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes do Brasil, Erick Moura de Medeiros, da representante da Companhia Nacional do Ródano (França), Marie Cécile Grisard, e do representante da empresa holandesa Witteveen-Bos, Polite Laboyrie.
Com 3.442 quilômetros de extensão (881 deles no Brasil), a hidrovia Paraguai-Paraná tem dimensões e características semelhantes a do Mississipi-Missouri, nos Estados Unidos. Porém, enquanto a norte-americana transporta anualmente cerca de 500 milhões de toneladas em carga, a sul-americana movimenta apenas 20 milhões de ton/ano.
Uma das principais vantagens do modal hidroviário está na economia: um comboio de 20 barcaças pode transportar 30 mil toneladas com um consumo de combustível de 5 litros/ton/km. Para transportar a mesma carga, seriam necessários 400 vagões, com um consumo de 85 litros/ton/km ou 1.200 caminhões a 218 litros/ton/km.
“A hidrovia Paraguai-Paraná é uma grande oportunidade de desenvolvimento para cinco países: Paraguai, Brasil, Uruguai, Argentina e Bolívia. Com um investimento relativamente pequeno, é possível proporcionar um ganho de competitividade para esses países em nível mundial, mas precisa ser um investimento coordenado”, afirmou o ministro de Obras Públicas e Comunicações do Paraguai, Ramón Jimenez Gaona Arellano, acrescentando que o modal tem grande importância no país: o Paraguai é dono da terceira maior frota de barcaças do mundo.
Um dos pontos importantes para a viabilização da hidrovia é a transposição da barragem de Itaipu, localizada no Rio Paraná, na fronteira entre Brasil e Paraguai. A Ata do Iguaçu, de 1966, documento que antecede o Tratado do Itaipu, já previa a realização de estudos para a construção de eclusas no futuro.
Em 2017, a partir de um entendimento entre as diretorias brasileira e paraguaia, a binacional decidiu promover uma atualização desses estudos, com vistas a determinar a viabilidade técnica, econômica e ambiental do projeto. “Houve um aumento considerável das cargas transportadas na última década, daí a necessidade de atualizar as informações”, explicou o diretor Newton Luiz Kaminski. “Por isso, estamos também utilizando o modelo reduzido da barragem (localizado no Paraguai) para os estudos de hidráulica”, completou.
Os próximos passos, segundo o diretor, são promover os estudos de segurança náutica e de desenho, buscando aproveitar a topografia para otimizar custos. Essa análise está a cargo da Witteveen-Bos. As projeções iniciais indicam que a margem direita (a paraguaia) seria a mais indicada para abrigar o sistema de eclusas.
“Somente com todos os estudos concluídos é que poderemos projetar os custos e o modelo de financiamento da obra. Como se trata de um desnível de 120 metros, será seguramente o maior sistema de eclusas do mundo”, completou Pedro Domaniczky.
“Rios são ecossistemas frágeis”, apontou Marie Cécile, da Companhia Nacional do Ródano. “Mas podem ser uma solução para problemas climáticos e ambientais ligados à produção energia, segurança alimentar e mobilidade”.
Para Igor de Souza Ribeiro, do Ministério de Minas e Energia, os estudos de viabilidade devem considerar também como a hidrovia será utilizada em situações de estresse hídrico. “O setor elétrico tem como diretrizes o cumprimento a contratos, a eficiência e a responsabilidade socioambiental. Se não há água, é necessário gerar com outras fontes. Similarmente, a hidrovia deve considerar alternativas de transporte para os períodos de seca”, afirmou.