Cotidiano

Itaipu faz soltura recorde de peixes

Itaipu faz soltura recorde de peixes

Foz do Iguaçu – Os profissionais da Divisão de Reservatório da Itaipu atingiram, na última sexta (18), um marco na campanha de marcação e soltura de peixes. Em um só dia, foram soltos mil exemplares de peixes adultos da espécie pacu (Piaractus mesopotamicus) no corpo principal do reservatório da usina, no Rio Paraná. Foi a maior soltura de uma só vez desde que a binacional começou, em 1997, a pesquisa sobre o comportamento das espécies migratórias. O diretor de Coordenação da binacional, general Luiz Felipe Carbonell, participou da atividade.

“Esse trabalho nos traz entendimento sobre a efetividade de nosso Canal da Piracema e também permite termos um conhecimento mais adequado de toda a ictiofauna que compõe nosso sistema”, explicou o diretor. “O melhor de tudo é poder estar junto da equipe e acompanhar o trabalho deles”.

Segundo o engenheiro de Pesca Mauricio Adames, da Divisão de Reservatório, é a primeira vez que a soltura é feita no corpo principal, bem longe da margem. “Um dos focos da pesquisa é marcar e soltar os peixes em locais distintos, como nas prainhas, no corpo principal ou, até mesmo, no Rio Paraná, a jusante da barragem, para avaliarmos o comportamento dos peixes soltos em cada local”, afirmou.

Em setembro de 2019, por exemplo, foram soltos pacus marcados no balneário de Itaipulândia. De lá pra cá, foram recapturados 17% de todas as marcas, o que mostrou um padrão da movimentação dos peixes que se concentraram em áreas próximas ao local da soltura. Agora, com a pesquisa feita no corpo principal do reservatório, será possível avaliar se esse padrão de dispersão da espécie se mantém ou se é um efeito da alta pressão de pesca no local.

Como funciona

O acompanhamento da movimentação dos peixes é possível graças a dois marcadores, um chip eletrônico e outra marca externa. Caso o animal passe pelo Canal da Piracema de Itaipu ou no sistema de transposição de peixes de Porto Primavera (410 km acima), as antenas irão captar a presença do chip eletrônico. Além disso, se o peixe for pescado em outro local, o pescador é orientado a devolver a marcação externa, apontando onde ele foi capturado. Com esses dados, é feito o monitoramento da circulação dos peixes.

“O estudo está baseado na técnica de marcação e recaptura e, portanto, depende da participação ativa da comunidade de pescadores, informando o momento e o local de recaptura de exemplares marcados”, diz o gerente da Divisão de Reservatório, Irineu Motter.

Segundo ele, o objetivo é continuar a campanha de marcação e soltura durante o período da Piracema, que vai até 28 de fevereiro. “Nesse período, os peixes nativos não podem ser capturados, portanto, essas solturas darão mais oportunidade para eles seguirem seus instintos migratórios e melhor representar a dispersão e as rotas”.

Em 2020, foram soltos 1.706 exemplares de pacu em cinco campanhas nos meses de junho, outubro e dezembro. “Os peixes são provenientes de pesquisas feitas pela Divisão de Reservatório e parceiros, utilizando protocolos de reprodução induzida de espécies nativas, cultivo de formas jovens em sistema bioflocos (sistema fechado de produção com baixo consumo de água) e engorda em sistema de tanques-rede”, informou o engenheiro agrônomo André Watanabe, também da Divisão de Reservatório. Desde 2016, já foram marcados e soltos 3.700 peixes nativos criados em cativeiro.

Como ajudar

A comunidade também pode participar do projeto de migração quando capturar um peixe marcado. Basta entrar em contato pelo 0800 6452002 ou pelos e-mails [email protected] e [email protected], repassando as informações do local de captura, data e tamanho do peixe. Pela participação, a Itaipu retribui com um brinde que poderá ser útil nas próximas pescarias.

Histórico

Os estudos da migração de peixes no Rio Paraná começaram em 1997, com o objetivo de verificar como os peixes de espécies migratórias que precisam percorrer centenas de quilômetros para completar seu ciclo reprodutivo estariam se adaptando à condição criada pela construção da barragem de Itaipu e seu reservatório. No total, foram marcados mais de 54 mil peixes com foco em 28 espécies que realizam migrações de longas distâncias.

Desde o início, o projeto contempla um trecho extenso da bacia do médio e do alto Paraná, compreendido entre as usinas hidrelétricas de Yacyretá (Paraguai-Argentina) e a de Porto Primavera (São Paulo). O trecho de marcação de peixes é, portanto, de 1.425 km no Rio Paraná, incluindo três reservatórios (Yacyretá, Itaipu e Porto Primavera) em três países: Brasil, Paraguai e Argentina. “A área de abrangência total é ainda mais extensa, visto que recapturas já foram registradas a mais de 1.700 km do local de marcação”, informou a bióloga Caroline Henn.

A partir de 2009, Itaipu e Porto Primavera incorporaram a mesma metodologia de marcação com chips eletrônicos para monitorar suas passagens de peixes, o que ajudou a aprimorar a qualidade dos dados obtidos sobre migração, que agora já não depende exclusivamente da recaptura dos peixes marcados. Graças a esta tecnologia, foram obtidos, em 2018, os primeiros registros de peixes marcados em Yacyretá, que se deslocaram por mais de 480 km, transpondo o Canal da Piracema e chegando ao Reservatório de Itaipu. São espécies ameaçadas, como a piracanjuba e o dourado, atestando o papel do Canal da Piracema como corredor de biodiversidade.