RIO – A presença do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e cinco presidentes, que assistem em Havana à assinatura do acordo de cessar-fogo definitivo entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionários da Colômbia (Farc) indica o quanto a data é histórica. Após mais de 50 anos de conflito ? que deixou cerca de 260 mil mortos, 45 mil desaparecidos e deslocou 6,9 milhões de pessoas ? a guerrilha e o governo finalmente anunciarão bilateralmente o fim das hostilidades. O acordo fundamental inclui ainda a definição das zonas guerrilheiras, o cronograma para deposição de armas e as garantias de segurança para os combatentes. Em outras palavras, ?o último dia da guerra?, como anunciou o membro da delegação de paz das Farc, Carlos Antonio Lozada, no Twitter. farc
Ambas delegações indicaram que o acerto será conhecido em um ato comandado pelo presidente Juan Manuel Santos e pelo chefe das Farc, Timoleón Jiménez (o Timochenko). Além deles e de Ban, estarão presentes o presidente da Assembleia Geral da ONU, Mogens Lykketoft, e o embaixador francês nas Nações Unidas, François Delattre, assim como representantes dos países garantidores ? Cuba, com o presidente Raúl Castro, e Noruega, com o chanceler Borge Brende ?, e chefes de Estado de países vizinhos como Michelle Bachelet, do Chile, e Nicolás Maduro, da Venezuela.
Em julho do ano passado, as Farc já haviam anunciado uma trégua unilateral como gesto de boa vontade para a conclusão das conversações, que começaram em 2012. Mas, depois de vários avanços e recuos, as negociações ganharam novo impulso apenas nas últimas semanas. Santos, que exigiu dos negociadores um esforço para um cessar-fogo definitivo ? ?um passo fundamental para alcançar a paz? ?, considerou na segunda-feira que os diálogos podem estar totalmente finalizados em 20 de julho, festa nacional no país.
?Amanhã será um grande dia!?, escreveu o presidente no Twitter. ?Trabalhamos por uma Colômbia em paz, um sonho que começa a ser realidade?.
Comemoração no Twitter
A hashtag #OÚltimoDiaDaGuerra foi um dos assuntos mais comentados no Twitter, onde figuras públicas e milhares de colombianos comemoraram o acordo ? e expressaram sua incredulidade.
Uma vez que seja feito o anúncio oficial, ficam pendentes outros pontos da agenda das negociações iniciadas em novembro de 2012. Mesmo assim, Leon Valencia, ele próprio um ex-combatente da guerrilha, diz que é factível falar sobre fim da guerra. E classifica o acordo como o mais importante anunciado até agora.
? Parece ser uma frase muito forte, mas é factível, porque amanhã (hoje) acabará uma guerra que dura mais de 50 anos. E seu anúncio está sendo preparado há muitos meses. O cessar-fogo unilateral das Farc foi cumprido, com poucos incidentes, e creio que as forças militares colombianas também estão prontas ? afirma Valencia ao GLOBO, ressaltando que Santos está tomando decisões mais cautelosas em relação a prazos. ? Depois de ter voltado atrás, o governo está comprometido com as datas e não quer mais fracassar. Entendeu que é melhor dar prazos longos, porque o dialogo está nos detalhes.
Camilo Gonzalez Posso, do Instituto de Estudos sobre a Paz e Desenvolvimento (Indepaz), lembra que podem surgir novos imprevistos, como atentados, que atrasariam o processo. Mas também está otimista com o resultado.
? Alguns trâmites continuam pendentes, mas o acerto que será assinado mostra que finalmente estamos na direção para o fim da guerra na Colômbia. Mesmo com imprevistos, estou certo de que até o fim deste ano teremos um acordo final. Poderíamos ter tomado um caminho mais rápido, por exemplo, se o cessar-fogo fosse pactado no início das conversações. Agora, haverá um grande debate sobre o referendo por voto popular.