RIO? m cena de ?Segredos de Justiça?, série do ?Fantástico?? que estreia hoje, às 21h, a expressão de Gloria Pires é contida. Quase não há diálogos para a atriz, que passa a maior parte do tempo calada, apenas observando e analisando a situação à sua volta.
Na produção de cinco episódios, a atriz interpreta uma juíza ? não há menção ao nome dela ? inspirada em outra juíza, Andréa Pachá, e nos casos que ela descreveu no livro de crônicas ?A vida não é justa?, lançado em novembro de 2012.
? Eu assisti a muitas entrevistas da Andréa e fiquei encantada com a maneira de ela ser. Ela é juíza? Porque é tão gente como a gente, é distante dessa imagem de juiz preconcebida que a gente tem. E adoramos isso de não ter texto. É bacana porque é diferente do que estamos acostumados a ver ? avalia Gloria, que também compareceu ao Tribunal de Justiça algumas vezes para acompanhar o desenrolar dos casos.
O diretor artístico do quadro, Rafael Dragaud, reitera que ?o protagonismo não pode ser medido em fala?:
? É difícil preservar a importância da interpretação sem fala. Como diz o David Chase (criador da série ?Família Soprano?), você tem que ter um grande ator e coragem para acreditar no silêncio dentro da TV ? argumenta.
É com muita observação que tanto a juíza quanto o espectador avaliam casos como o de dois pais ? o biológico e o de criação ? que brigam pela guarda de uma criança e o de duas viúvas do mesmo marido que disputam a partilha dos bens. E, embora cada episódio tenha por volta de 15 minutos, Andréa revela que alguns casos se estenderam por anos.
? As histórias são todas de ficção, mas reais, algumas aconteceram várias vezes, e misturei, o livro é de crônicas ? explica a juíza.
Casos em três momentos
Na atração, há três momentos: no tribunal, quando a juíza está sentada com os envolvidos; no flashback, quando a história é contada para o público; e nos depoimentos de atores que interpretam os personagens reais. Um falso docudrama, como define Dragaud:
? É a melhor forma de transpor isso do livro para a televisão. Se eles são os personagens reais ou não, não é relevante, pois estão representando uma verdade maior ? conta. ? O objetivo não é ser didático com relação aos processos, a gente quer emocionar, educar quando der e jamais deseducar.
O elenco de apoio traz nomes como Natália Lage, Marcello Melo Jr., Igor Angelkorte, Heloisa Périssé, Júlia Rabello e Lellêzinha, conhecida como dançarina do Dream Team do Passinho. Segundo o diretor, a presença de rostos famosos era essencial exatamente para que as pessoas não confundissem as reconstituições dos fatos com os depoimentos.
? Não dá tempo de explicar quem é quem nos três atos. A pessoa tem que olhar e conectar uma cena com a outra ? diz o diretor Pedro Peregrino, que optou por uma condução bem realista, sem carregar no melodrama.
Feito que deixou Andréa bastante satisfeita:
? É um profundo respeito à dor das pessoas que chegam ao tribunal. Há uma fantasia com relação ao funcionamento da Justiça que é distante da realidade. O conceito de Justiça é utópico, todo mundo quer, mas a Justiça é um desejo, a gente constrói as soluções possíveis porque a vida não é justa mesmo. A pessoa não ganha uma estrela na testa por fazer tudo certo.
Para Gloria Pires, ?Segredos de Justiça? oferece uma gama interminável de casos. A segunda temporada já está confirmada pela Globo e em produção:
? Andréa é uma pessoa totalmente acessível, não existe isso de toga e martelo. E o mais interessante é que o tribunal é um palco de emoções, a gente não acha que é possível a vida ser tão louca, com as coisas se desenhando fora do controle.
?O tribunal é um palco de emoções, a gente não acha que é possível a vida ser tão louca, com as coisas se desenhando fora do controle??