BERLIM ? Uma comunidade em especial acompanha com atenção as eleições holandesas. Geert Wilders, o filho de uma indonésia e de um holandês, nascido na cidade de Venlo há 54 anos, ensinou os imigrantes a ter medo do futuro. Se for eleito, o candidato da extrema-direita anunciou que vai ?devolver a Holanda aos holandeses?, prometendo fechar todas as mesquitas e escolas islâmicas e proibir a entrada de muçulmanos no país. Holanda
Chamado de ?Trump holandês?, o líder do Partido para a Liberdade (PVV) é muito mais radical do que o presidente americano e mais ambicioso na sua meta de mudar o país. O manifesto da legenda defende ?o fim da islamização da Holanda? ? quase um terço do texto é dedicado ao assunto ?, o que inclui o banimento do uso do véu muçulmano e a proibição do Alcorão. Além disso, quer a saída da Holanda da União Europeia.
? Eu sinto que eu tenho uma missão ? disse o favorito nas eleições de quarta-feira, em entrevista recente, mostrando como está disposto a tudo para fazer a sociedade holandesa voltar às suas origens.
Ele já perguntou se os eleitores queriam ?menos marroquinos?, afirmando que estes tornam ?mais perigosas as ruas da Holanda?. A afirmação, em 2014, lhe valeu a condenação em um tribunal por insulto e incitação à discriminação racial. Nos comícios, nos últimos meses, Wilders continuou a apelar ao sentimento nacionalista. Para o candidato, é justamente a tradicional tolerância holandesa que se encontra ameaçada pelo que chama de ?ideologia totalitária?.
? Se quiserem recuperar o controle do país, se quiserem devolver a Holanda aos holandeses, fazer da Holanda a sua casa outra vez, então só há um único partido no qual devem votar ? disse no início de fevereiro em Spijkenisse, no Oeste do país.
Sobre a sua mãe, que nasceu na Indonésia quando o país majoritariamente muçulmano era colônia holandesa, ele procura não falar. Wilders entrou na política aos 20 anos, mas a sua radicalização teria começado no final da década de 1990, quando rompeu definitivamente com o passado, pondo de lado tudo o que estava relacionado com os seus antepassados na Indonésia.
A metamorfose começou com os cabelos, antes pretos, que foram pintados de louro, acabando por se tornar a sua marca registrada. Também o sotaque, da região da província de Limburg, perto da fronteira com a Alemanha, foi abandonado.
Wilders começou como deputado do conservador Partido Popular para a Liberdade e Democracia (VVD), do atual primeiro-ministro Mark Rutte. Já naquela época, o político Pim Fortuyin chamava a atenção ao criticar a imigração muçulmana.
Quando Fortuyn foi assassinado em 2002, e dois anos depois o cineasta Theo van Gogh, também crítico do Islã, Wilders rompeu com o VVD e fundou o seu próprio partido, o Partido da Liberdade, adotando um estilo mais radical. Info – Holanda crise econômica
O candidato, que polariza mais do que qualquer outro político holandês, já comparou o Alcorão ao ?Minha luta?, de Hitler, mas não tem a influência direta dos antigos nazistas, ao contrário dos líderes da extrema-direita austríaca. Sua retórica gera desafetos, o que faz Wilders ser protegido por dezenas de guarda-costas e viver num endereço sigiloso.
? Milhões de europeus querem menos UE ? diz o candidato. ? Eles precisam ter uma voz. Queremos ser um contrapeso para os outros partidos que estão sempre mudando de posição com medo de perder votos. A Europa precisa de críticos.
De acordo com o escritor alemão Henryk M. Broder, os eleitores do político são motivados pelo medo da perda da identidade com a imigração das antigas colônias.
? Ele recusa a política do multiculturalismo ? diz Broder.
O historiador Paul Scheffer, de Amsterdã, vai ainda mais longe ao falar sobre o drama dos holandeses que na verdade ?não aceitam o multiculturalismo?. Na sua opinião, isso favoreceria o avanço da extrema-direita também em outros países europeus.
? A era da extrema-direita na Europa não é um episódio esporádico, mas uma tendência que veio para ficar durante décadas ? lembra.
Segundo Scheffer, mesmo em um país rico como a Holanda, o debate sobre a imigração é acompanhado pela sensação de perda.
? Wilders só será freado quando os partidos do centro definirem a sua posição em relação à imigração ? afirma.
Parte da ?missão? de Wilders é também conseguir a saída da Holanda da União Europeia e da zona do euro.
? A minha pátria é a Holanda, não tenho uma pátria europeia ? disse o político holandês em entrevista à televisão.
Mas o populista atrai adeptos também com um programa de política social generosa, com a promessa de baixar os custos de moradia e reduzir a idade para a aposentadoria.
* Especial para O GLOBO