RIO ? As Ilhas Galápagos, no Equador, estão entre os mais conhecidos santuários ecológicos do mundo, por ter servido de palco para a formulação da teoria da evolução pelo naturalista britânico Charles Darwin. Mas apesar de toda proteção, uma espécie de pássaro, que vivia apenas no arquipélago, foi considerada extinta.
? Uma espécie de pássaro ser extinta em Galápagos é uma grande questão ? disse Jack Dumbacher, pesquisador da Academia de Ciências da Califórnia e coautor do estudo publicado no periódico ?Molecular Phylogenetics and Evolution?. ? É um marco para a conservação de Galápagos, e chama a atenção para o entendimento do porquê desses pássaros terem declinado.
O estudo determinou que duas subespécies de Vermilion Flycatchers, conhecidos popularmente no Brasil como príncipes, são na verdade espécies únicas, encontradas apenas em Galápagos. O problema é que uma delas não é vista na natureza desde 1987, e pode ser considerada extinta. De acordo com os pesquisadores, trata-se da primeira extinção moderna de uma espécie de pássaros no arquipélago.
As pesquisas foram conduzidas com amostras da Academia, que abriga a maior coleção de pássaros do arquipélago, coletados há mais de cem anos. Por meio de sequenciamento genético, os pesquisadores construíram a história evolutiva das espécies, ambas descritas por Darwin, durante expedição em 1835.
Os Vermilion Flycatchers possuem uma história evolutiva complexa, com ramos de uma população ancestral que se dividiu em 12 subespécies reconhecidas, que povoam as Américas, do Brasil aos EUA. O estudo comparou a história evolutiva com a forma como a ciência classifica espécies e subespécies e encontrou inconsistências.
Duas dessas subespécies, encontradas apenas em Galápagos, são tão distintas geneticamente que foram elevadas ao status de espécie: o Pyrocephalus nanus, encontrado em praticamente todo o arquipélago, e Pyrocephalus dubius, que era encontrado apenas na ilha de San Cristóbal. Este último, menor e com diferenças sutis na coloração em relação às outras espécies, é conhecido como San Cristóbal Vermilion Flycatcher e não é visto há quase três décadas.
As causas da extinção são desconhecidas, mas duas ameaças invasoras podem ter tido algum papel: ratos e moscas parasitas. Os ratos escalam árvores para alcançarem ninhos de pássaros e comer os ovos, já as moscas podem matar os filhotes. Essas duas espécies invasoras estão provocando impacto na população restante de Vermilion Flycatchers.
? Infelizmente, parece que nós perdemos o San Cristóbal Vermilion Flycatcher ? disse Dumbacher. ? Mas esperamos que um desdobramento positivo dessa pesquisa seja redobrar os esforços para compreender o declínio e alertar sobre as ameaças para as espécies sobreviventes antes que elas tenham o mesmo destino.