RIO ? O segundo debate entre Marcelo Crivella (PRB) e Marcelo Freixo (PSOL) pelo segundo turno da eleição para prefeito do Rio de Janeiro, transmitido na noite desta terça-feira pela ?Rede TV?, começou em clima de ataque. Ambos os candidatos deixaram as propostas de lado e passaram todo o primeiro bloco do debate citando polêmicas que ganharam o noticiário ao longo da semana.
Logo na primeira pergunta, Freixo citou o livro ?Evangelizando a África?, escrito por Crivella e publicado no Brasil em 2002, que contém ataques a religiões e homossexuais ? conforme revelou reportagem do GLOBO no último domingo. Freixo citou uma passagem do livro em que Crivella diz que os católicos praticam ?doutrinas demoníacas? e perguntou ?como alguém com tanto ódio pode ser prefeito do Rio de Janeiro?. Crivella reagiu dizendo que ódio existe entre os black blocs, alegando que o grupo está ?sob o comando? do partido de Freixo.
? Reconheço que usei palavras erradas (no livro). Agora, ódio mesmo é dos black blocs. Ontem mesmo eles foram a praça pública, manipulados pelo seu partido. Os black blocs, sob seu comando, tem as mãos sujas de sangue. Ódio existe entre os black blocs, inclusive sob o comando do seu partido ? afirmou Crivella.
Freixo citou na resposta o caso do bispo da Igreja Universal Sergio Von Helde, que chutou uma imagem de Nossa Senhora Aparecida em programa de TV na década de 1990, e tentou associar Von Helde a Crivella, que é bispo licenciado da Universal.
? Não existe qualquer vínculo meu com black bloc e com qualquer violência. O seu grupo prega violência. Foi aqui que um sócio da sua empresa chutou uma santa. Vocês produzem ódio o tempo todo ? reagiu Freixo.
MILÍCIAS E IPTU ALIMENTAM ATAQUES
Na sequência, Crivella questionou Freixo sobre um eventual aumento do IPTU, afirmando que o candidato do PSOL pretendia subir o valor do imposto. Freixo respondeu mantendo o clima beligerante, voltando a citar o polêmico livro de Crivella:
? Pelo visto você tem problemas com o que escreve e com o que você lê. E quando você escreveu aquele livro já tinha 42 anos, já era pai, adulto, estava se preparando para ser senador ? respondeu Freixo, antes de voltar ao tema da pergunta. ? Não vamos aumentar o IPTU. Vamos fazer uma revisão para criar justiça. O aumento foi abusivo principalmente na Zona Oeste. Não há intenção de criar novos impostos.
? Estava arrecadando recursos com o livro para criar um projeto padrão no Nordeste ? justificou Crivella. ? Você mudou seu plano de governo, e mudou sem consultar os 5 mil participantes do seu plano. Está escrito que você vai aumentar o IPTU. Você também dizia lá que ia criar secretarias, e agora diz que vai diminuir ? devolveu o candidato do PRB.
Em nova pergunta, Freixo citou o apoio de Carminha Jerominho a Crivella. Carminha é mulher do ex-deputado estadual Jerominho, preso por envolvimento em atividade de milícias. O candidato do PRB mostrou incômodo por ser associado pelo psolista a um miliciano:
? É impressionante o que você é capaz de fazer para obter o poder. No primeiro turno estávamos conversando sobre o mal que tinha no Rio de Janeiro, os corruptos do PMDB. E eu disse a muita gente que, se não votasse em mim, votasse em você. E você agora tem coragem de dizer isso sobre um pai de família, avô e ficha limpa. Eu não vou descer o nível, não vou dizer que você é canalha, safado e vagabundo. Não farei isso. Minha vida toda é íntegra ? respondeu Crivella.
Freixo devolveu em tom de ataque:
? Eles foram para a internet declarar apoio a você e me ameaçar. E você deu entrevista dizendo que esse apoio era bem vindo. O problema é que você não reconhece o que você fala e o que você escreve. Por trás dessa fala mansa não sabemos quem você é.
CORRUPÇÃO TAMBÉM MOTIVA ATAQUES
Assim como tem feito no horário eleitoral gratuito pela TV, Freixo citou seguidas vezes a proximidade entre Crivella e o ex-governador Anthony Garotinho.
? Foi na época do Garotinho que a atuação das milícias explodiu no Rio de Janeiro. Espero que as políticas de segurança pública do seu aliado não sejam as mesmas que você pretende implantar ? afirmou Freixo.
Em seguida, o candidato do PSOL questionou Crivella sobre o papel do ex-secretário municipal Rodrigo Bethlem em sua campanha. Bethlem foi afastado da gestão de Eduardo Paes após uma gravação trazer à tona suspeitas de recebimento de propina. Crivella ironizou o tom de denúncia de Freixo.
? Como pode um homem dos direitos humanos condenar alguém sem julgamentos e sem provas? Ele (Bethlem) está vivendo um momento difícil, e vai responder perante a Justiça. Não deve ser prejulgado, ainda mais por um paladino dos direitos humanos, que diz que bandido bom é bandido que tem os direitos respeitados ? alfinetou Crivella.
Em seguida, Crivella lembrou o caso do pedreiro Amarildo, morto na Rocinha em 2014. O candidato do PRB citou uma ONG que fez um show para arrecadar fundos em apoio à família de Amarildo, mas ficou com uma parte dos recursos, e insinuou que o dinheiro foi usado para financiar a campanha de Freixo. O candidato do PSOL já havia rechaçado as acusações anteriormente.