Cotidiano

Flores com aroma de café

A cidade que ainda tem nos cafezais sua principal fonte de renda

Jesuítas – De um lado da PR-239 em Jesuítas, que poderia ser facilmente chamada de “rodovia de café” com tantos cultivos em seu entorno, a variedade Mundo Novo está pronta para ser colhida. Do outro, a florada toma conta da plantação em uma beleza incontestável de flores brancas que vão ganhar o aroma inconfundível de café.

Por lá, se existe uma cultura que tem resistido ao tempo, às interferências climáticas e à pressão do binômio soja-milho, são os cafezais. Paixão para alguns, vício para outros, artigo de luxo e de degustação para tantos mais, a bebida mais consumida pelos brasileiros ganha um cantinho especial na vida de quem dedica a vida ao cultivo do líquido apreciado por 12 séculos.

Assim como faz o agricultor Alcemir de Lima. Aos 62 anos, ele tem uma jornada inteira voltada àquilo que chama de “razão de existir”.

Em sua simplicidade, o cafeicultor pode não se dar conta, mas nele e em seu ofício tudo esbanja tradição. Basta alguns dedinhos de prosa com alguns milímetros de café para isso ficar nítido.

Ele lembra do tempo em que as lavouras tomavam conta do cenário agrícola local. Com a geada negra de 1975, elas foram praticamente dizimadas e agora, nos hectares onde ainda sobrevivem, as plantações são quase um artigo de luxo, com resultados milionários para a pequena cidade de menos de 9 mil habitantes. “Para mim o café representa tudo, a vida, o ganha-pão, é ele quem paga as minhas contas e essa ainda é uma das poucas culturas onde os maquinários não entraram e tomaram conta de tudo. Aqui o homem é indispensável”.

Hoje ele vive de arrendamentos. Recebe uma parte do lucro da área onde cultiva. Na que visitamos, são cerca de 20 hectares. Em parte dela a colheita acabou semana passada com a promessa de uma excelente safra: 100 sacas por alqueire. “A qualidade está boa, o resultado está muito bom e o mercado aqui está garantido, tudo o que colhemos vai para uma cooperativa. A venda já está garantida”.

A arte de abanar

Entre uma abanada e outra nos grãos para remover impurezas, folhas e terra, Alcemir de Lima reconhece que as plantações estão cada dia mais escassas pela região, mas não seria assim se dependesse apenas dele. “Por mim isso tudo aqui seria forrado de café. É um cultivo bonito e gostoso demais”, afirma, ao apontar para o horizonte.

Por sorte, as geadas deste ano não prejudicaram os pés das delicadas e sensíveis plantas que não gostam do frio de jeito algum.

Na região de Jesuítas o cultivo ocupa cerca de 400 hectares. Pode parecer pouco, mas ainda é uma das maiores áreas voltada para a produção agrícola no Município. Ano passado a safra rendeu 930 toneladas, segundo o VBP (Valor Bruto da Produção Agropecuária) apurado com base nos números fornecidos pelo Núcleo Regional da Seab (Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento) de Toledo, por onde a cidade de Jesuítas recebe cobertura.

Segundo o Deral (Departamento de Economia Rural), a cultura rendeu em 2016 R$ 6.714.600 aos cafeicultores locais.

E quanto às expectativas para este ano? A resposta está num bom gole do cafezinho.