Cotidiano

Fitch: eleição não muda rating dos EUA, mas risco é aumento na dívida do país

RIO ? A eleição de Donald Trump não tem impactos de curto prazo para o rating (avaliação de risco de crédito) dos Estados Unidos, afirmou a agência Fitch em comunicado divulgado há pouco. Porém, se o presidente eleito implementar o corte de impostos prometido por ele na campanha, haverá um “aumento dramático” do endividamento público nos EUA, alerta a Fitch. “A perda líquida de receitas estimada pelo Urban-Brookings Tax Policy Center com os cortes propostos para impostos a pessoas e empresas chega a US$ 6,2 trilhões (um terço do PIB americano de 2016), num horizonte de dez anos. Para efeitos de comparação, o cenário básico do Escritório de Orçamento da Câmara (órgão técnico que assessora os parlamentares americanos) já prevê um aumento da relação dívida/PIB dos EUA de nove pontos percentuais até 2025”

A agência lembra que o rating dos EUA é apoiado numa flexibilidade financeira sem paralelos e numa economia grande, rica e diversificada. Uma deterioração fiscal significativa e a perda de coerência e credibilidade das políticas econômicas são os maiores riscos no horizonte, diz a Fitch.

A Fitch destaca que há incertezas sobre os detalhes do programa de governo de Trump, sobre como ele vai conduzi-lo e sobre sua capacidade de implementá-lo. “Isso vai depender da cooperação entre o presidente e a maioria republicana na Câmara e no Senado, e até que ponto os senadores democratas conseguirão bloquear as medidas propostas”.

As principais propostas de Trump, lista a Fitch, incluem a redução de impostos, a renegociação de acordos comerciais, uma menor abertura à imigração, a desregulamentação dos mercados e um maior investimento em infraestrutura.

“O impacto fiscal das medidas serão negativos para os EUA a médio prazo, já que a redução de impostos, sozinha, não é capaz de gerar crescimento econômico suficiente para gerar um crescimento econômico que compense a perda na arrecadação. Corte de impostos poderia aumentar a renda disponível das famílias, o que impulsionaria o crescimento a curto prazo se viesse acompanhado de desregulamentação e um maior investimento público. Mas isso vai depender do quanto essas medidas serão ofuscadas pelo impacto negativo no investimento privado da incerteza política e de seus desdobramentos no mercado financeiro (como, por exemplo, uma alta do dólar e uma queda das ações) e dos efeitos adversos no fluxo comercial”, avalia a agência.

Uma guinada em direção ao protecionismo comercial, como consta das propostas de Trump, acrescenta a Fitch, com a saída do Nafta (acordo de livre comércio com México e Canadá) e a imposição de tarifas à China, teria “significativas implicações adversas para o investimento e o crescimento nos EUA, além de elevar preços, principalmente se houver uma contrapartida de outros países na direção de uma ‘guerra cambial'”.

Essa mudança de orientação na política externa sofreria forte resistência dos lobbies corporativos, destaca a Fitch, expondo uma fissura entre o presidente eleito e o “mainstream” dos legisladores republicanos. Em teoria, o presidente americano pode usar seus poderes executivos para tirar o país de acordos comerciais. Mas, na prática, acrescenta agência, o Congresso deve exigir ser ouvido em qualquer mudança em acordos comerciais que tenham sido aprovados pelos congressistas.