SÃO PAULO – O juiz Sérgio Moro e o advogado de Antonio Palocci, José Roberto Batochio, discutiram durante audiência realizada na manhã desta segunda-feira, depois que o juiz perguntou a Fernando Barbosa, uma das testemunhas ouvidas, se ele sabia quem era o “Italiano” nas planilhas da Odebrecht. Barbosa disse que sabia, por outros executivos da empresa, que Palocci era ?o italiano?,
– Com devido respeito testemunha não pode achar nada, não opina. Não vou aceitar essa violência – protestou Batochio, que pretendia ver anulada a pergunta do juiz.
Moro indeferiu a questão e, diante de novo protesto, encerrou o assunto:
– Faça concurso para juiz e assuma então a condução da audiência, mas quem manda na audiência é o juiz.
Ao fim do depoimento, a defesa de Palocci quis saber novamente como Fernando Barbosa sabia que o ex-ministro era o “italiano”, uma vez que não o conhece e nunca esteve com ele.
– Eu ouvi dizer por colegas da empresa que o italiano era o Palocci, mas não estive com ele, não conheço ele, essa é a verdade- disse o executivo.
Barbosa confirmou que o codinome “italiano”, que constava em planilhas de pagamento de propina da empresa, pertencia ao ex-ministro Palocci. Nas investigações da Lava-Jato, o apelido ?italiano? aparece numa das planilhas apreendidas no setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, mais conhecido como departamento de propina. Para a Lava-Jato, todos os recursos movimentados por “italiano” eram direcionados ao PT e alcançaram R$ 128 milhões, entre 2008 e 2013.
Ao receber a denúncia contra Palocci, Moro afirmou em despacho que havia provas que Palocci era o responsável pela coordenação dos recebimentos da Odebrecht para seu grupo político. Na planilha “Posição Programa Especial Italiano”, apreendida no email de Fernando Migliaccio da Silva, em julho de 2012, o valor disponível era “200.098”.
Há ainda na parte inferior do documento, sob o título “Composição do Saldo”, os codinomes “Itália – 6.000”, “Amigo – 23.000” e “Pós Itália – 50.000”. Para a força-tarefa da Lava-Jato, “pós-italiano” refere-se ao ex-ministro Guido Mantega, que teria sucedido Palocci na administração dos recursos.
Na semana passada, após depoimento de Marcelo Odebrecht à Justiça eleitoral, na investigação da chapa Dilma-Temer, a assessoria de Dilma afirmou que “não é verdade que Dilma Rousseff tenha indicado o ex-ministro Guido Mantega como seu representante junto a qualquer empresa tendo como objetivo a arrecadação financeira para as campanhas presidenciais” e que nas duas eleições foram designados tesoureiros, de acordo com a legislação.
Palocci é acusado neste processo de ter orientado a Odebrecht a fazer pagamentos no exterior a João Santana, cobrindo gastos de campanha do PT. A defesa de Palocci nega as acusações e afirma que ele não é o “italiano” das planilhas da construtora.