Cotidiano

Exposição em Paris reúne material inédito do Velvet Underground

Raras bandas duraram tão pouco e reverberaram tanto quanto o Velvet Underground. Entre 1965 e 1970, o grupo lançou quatro discos, praticamente ignorados pela crítica, mas cuja repercussão se espalhou pelos inferninhos nova-iorquinos. Era impossível ficar indiferente às distorções de John Cale e às letras explícitas sobre sexo, drogas e outros pecados escritas pelo jovem Lou Reed (1942-2013).

A indiferença da imprensa à época deixou lacunas. Fotos, vídeos e entrevistas são preciosidades. Por isso, é notável a qualidade (e quantidade) de imagens e documentos reunidos na exposição ?The Velvet Underground ? New York extravaganza?, em cartaz até 21 de agosto na sede da Philharmonie de Paris.

? Ao contrário de David Bowie ou dos Rolling Stones, que possuem arquivos criados pelos próprios artistas, o Velvet não tinha nada. Partimos de nossa própria pesquisa, que começou há cinco anos ? diz o jornalista francês Christian Fevret, idealizador do projeto, em parceria com a diretora artística Carole Mirabello.

O esforço da dupla foi chancelado pelo único integrante na ativa. John Cale tocou todas as faixas do clássico disco ?Velvet Underground & Nico? (1967) em um show no fim de semana de abertura, em março. A baterista Maureen ?Moe? Tucker, por outro lado, recusou-se a dar entrevistas ou abrir seus arquivos.

? Não sei o motivo, mas ela se mantém à distância. Foi frustrante ? desabafa o curador.

MAIOR MOSTRA JÁ FEITA

Idealizada para ser itinerante, a exibição multimídia é a maior e mais significativa realizada sobre o grupo. Para situar o visitante, a coletiva promove um mergulho na contracultura norte-americana e apresenta diversas curiosidades sobre os integrantes, cujo núcleo principal se completava com o guitarrista Sterling Morrison (1942-1995). Entre as revelações, há fotografias de Reed na infância e adolescência, registros audiovisuais de performances do grupo nunca antes exibidos e pessoas pouco conhecidas que orbitaram em torno do Velvet.

O cenário inclui cartazes ultracoloridos e 75 fotos clicadas por Fred McDarrah (1926-2007). Em preto e branco, elas mostram anônimos e figuras emblemáticas da cidade, como Woody Allen e Bob Dylan. Aos personagens centrais da trama é dedicado um vídeo que inclui testemunhos de Cale e da irmã de Reed, Merrill Reed Weiner. Foi ela quem cedeu as fotos de infância do primogênito. Numa delas, ele aparece abraçado à irmã, no quintal da casa dos pais. A outra é um retrato com os colegas de classe, na escola.

Também é possível ouvir as primeiras gravações de Reed e Cale, antes do encontro que mudaria para sempre as carreiras dos dois, em novembro de 1964, num apartamento no Lower East Side. A partir dali, entram em ação coadjuvantes que participaram da formação da banda.

COM WARHOL E MEKAS

No percurso, descobre-se que, até chegar à Factory, de Andy Warhol, os integrantes do Velvet encantaram outros nomes da avant-garde, como o cineasta Jonas Mekas. Além de ceder fotos e vídeos, Mekas criou uma instalação audiovisual para a ocasião.

Outra peça fundamental na trajetória do Velvet é a videoartista Barbara Rubin (1945-1980), aprendiz de Mekas. Além de filmar o grupo, foi ela quem insistiu para que Andy Warhol (1928-1987) fosse assistir à temporada da banda no Cafe Bizarre. O encontro é seguido pela chegada da cantora alemã Nico (1938-1988), de quem estão disponíveis fotos, áudios e vídeos.

O tão proclamado auge do Velvet Underground, o encontro com Warhol e Nico, não foi, na opinião de Fevret, fundamental para a posteridade da banda.

? O Velvet existia antes de Warhol e continuou depois dele ? diz. ? A parceria com o artista durou o tempo que tinha de durar, e aqui mostramos que eles não eram uma ?criatura? de Warhol. Eles seguiram sozinhos, em liberdade absoluta.