Cotidiano

Exposição com registros da Bossa Nova chega ao Municipal de Niterói

2016 913027811-INFOCHPDPICT000058883582_20160531.jpgNiterói ? No final dos anos 1950 e início dos 60 o Brasil estava em ebulição. Na política, Juscelino Kubitschek e a criação de Brasília, o agitador Carlos Lacerda no Rio, o período João Goulart e a deposição do governo com o golpe militar de 64. Já na cultura, os anos viveram a revolução da Bossa Nova e a efervescência da Jovem Guarda. As fotos de Antonio Nery são documentos valiosos de cada um desses momentos. Parte desse trabalho está exposto na Sala Carlos Couto, no Teatro Municipal, na exposição ?Brasil na era da Bossa Nova?. São 51 imagens que capturaram desde o nascimento do movimento à conquista do Brasil e do mundo por artistas como Tom Jobim e Vinícius de Moraes.

? Em 1961 eu cobria os eventos do Copacabana Palace. Fiquei lá por um ano e fiz fotos, por exemplo, de Sammy Davis Jr. e Tony Bennett. Ao mesmo tempo, o Ronaldo Bôscoli, com quem eu tinha trabalhado no jornal ?Última Hora?, me chamou para trabalhar nos shows que ele e o Miele estavam organizando no Beco das Garrafas ? conta Nery.

Através das lentes de sua Rolleiflex, foram documentados os primeiros sons dessa turma, que, segundo Nery, não tinha noção alguma do impacto que iria causar.

? Fotografei uma temporada de shows histórica. Foi o encontro de Tom, Vinícius, Os Cariocas, o baterista Milton Banana e o baixista Otavio Bailly. Depois, fiz o encontro deles com artistas internacionais, como o próprio Bennett.

Um episódio marcante para Nery foi a despedida de Sergio Mendes do Brasil.

? Fotografei a última temporada dele no Beco. Ele me chamou um dia e falou: ?Vamos botar o black tie, fazer mais um show e ir para os Estados Unidos?. Fiz as fotos em frente ao Beco, na praia e dele com Bôscoli e Miele.

Enquanto acompanhava, no Rio, os shows de João Gilberto e da pequena Nara Leão, o fotógrafo fazia a ponte aérea para São Paulo e vivia todo o frenesi da Jovem Guarda.

? Acontecia tudo ao mesmo tempo. Fotografava o Roberto e Erasmo Carlos em São Paulo, voltava para o Rio para fazer fotos da Elizeth Cardoso. Assim, montei um acervo espetacular. E eu era muito chato para fotografar, procurava ângulos diferentes e usava muito as sombras, influência da pintura.

A pilantragem de Wilson Simonal, que varreu o Brasil até o início dos anos 1970, também entrou para a história através de suas fotografias.

? Fiz fotos dele no Festival Internacional da Canção. Ele foi um fenômeno! O mais aplaudido do Maracanãzinho ? conta Nery.

O também fotógrafo Luiz Ferreira não se considera um curador, mas ajudou a organizar a exposição do colega. Ele ficou impressionado ao ver o cuidado com que Nery trata o seu trabalho:

? Ele é muito bem organizado, tem todos os negativos. O que é essencial, porque expor esse registro visual complementa o sonoro. É uma maneira também de preservar o que foi aquela época.