Tupãssi – Mais de 40 mil crianças e adolescentes vivem em abrigos em todo o Brasil, porém pouco mais de 8 mil estão disponíveis para adoção. As outras estão em processo de integração à família. Em contrapartida, há mais de 43 mil pais interessados em adotar, ou seja, uma média de cinco famílias no CNA (Cadastro Nacional de Adoção) para cada criança em abrigo.
A conta não fecha, e o motivo: ao realizar o cadastro demonstrando interesse em adotar, as famílias descrevem o perfil da criança desejada, e quanto mais exigente for essa descrição, maior será a demora para encontrá-la.
De acordo com dados do CNA, grande parte dos cadastros demonstra interesse em adotar crianças com idade até cinco anos e não se dispõem em receber irmãos, motivos que muitas vezes atrasam o processo de adoção, tendo em vista que a maioria das crianças para adoção tem idade superior e mais da metade (58%) possuem irmãos.
O interesse pela adoção muitas vezes está atribuído à infertilidade, mães que não puderam gerar um filho tem a ideia de que a adoção o substituirá. Só que a adoção deve ser de dentro para fora. O desejo de constituir uma família deve ser maior do que satisfazer o desejo pessoal de ser mãe/pai. O amor é construído no dia a dia. A mãe que está gerando um filho ou a que está passando por um processo de adoção está construindo esse amor.
Dúvidas referentes à adoção podem ser sanadas na Secretaria de Assistência Social da sua cidade.
Mãe biológica ou adotiva: nomes diferentes para coisas iguais
Deus me deu a oportunidade de ser mãe biológica de duas meninas, que são pedaços de mim, fora do meu corpo. Eu, que sempre quis ter filhos, me dediquei a amá-las e educá-las com firmeza e limites para que viessem a ser o que hoje são: cidadãs de bem, pessoas íntegras e comprometidas. Eu achava que quando fossem adultas meus instintos de proteção se acalmariam e que haveria um dia que eu diria: Pronto, dever cumprido! Ledo engano! Os filhos crescem e o instinto maternal se encarrega de nos manter e abastecer de um amor tão grande que não encontra limite, que não descansa nem se cansa.
E assim entendi que mãe de adultos não tem horário para dormir porque o filho(a) não chegou da faculdade, da jantinha, da balada… E senti na pele o porquê de pessoas mais velhas se dedicarem mais às orações, é culpa desse amor incondicional que cobra e oferece que reclama e acalma que sofre e precisa. Mas conheci o quanto é bom participar de uma vida, da construção de um caráter, da formação de um ser e que nossas conversas sempre carregadas de conselhos, nossas risadas, nossos momentos juntas são preciosos demais e fazem tudo valer a pena.
Então, 20 anos depois com quase 50 de idade, sem intenção nem preparação, eis que Deus me oferece novamente a oportunidade de ser mãe. Dessa vez mãe do coração.
Era um menino de pouco menos de dois aninhos, meu sobrinho e afilhado, que precisava de um lar ou iria para alguma instituição de acolhimento de menores. Senti minha vida invadida por todos os tipos de emoções: revolta, insatisfação, medo. Como assim? Começar tudo de novo, fraldas, mamadeira, choros de madrugada, birras, despesas, buscar e levar pra escola, tarefas escolares… E a adolescência como vai ser? Vou ter 70 anos quando ele tiver 20! Ah, muito difícil isso…
Confesso que a princípio mais como cristã do que como mãe, aceitei o desafio de adotar pedindo a Deus e a Nossa Senhora Aparecida que concedesse a mim e à minha família muito amor, que conseguíssemos ser em sua vida tudo o que ele precisava e merecia.
Esse, sim, se transformou em cuidados e não conseguíamos controlar a preocupação com o que podia lhe acontecer até que o acolhêssemos e, com ajuda de amigos, organizamos a documentação essencial, vencemos os 1.900 quilômetros de ida e volta e em quatro dias trouxemos nosso filho para a nossa convivência.
Ele hoje está totalmente adaptado, ama a mim e as irmãs, mas percebemos que é ao meu esposo, seu pai do coração, a quem ele devota os mais belos sentimentos de amor. Seria por ter sido o primeiro a dizer sim?
E foi assim que aprendi que ser mãe vai além do sangue que jorra nas veias, que o elo que une família é fruto da qualidade do sentimento que se oferece e consequentemente se recebe.
O Hélio Luan encheu nossa casa de alegria, risos, bagunça, brinquedos esparramados… Foi arrancando de nós gargalhadas, mexeu com nosso jeito de viver e de sentir as coisas, alterou nossa rotina para melhor e hoje, mais de quatro anos depois, digo com toda certeza que mãe biológica ou adotiva são nomes diferentes pra coisas iguais. Não há diferença no sentimento, no instinto de proteção, nas preocupações constantes, na vontade de agradar, no medo de como vai ser a adolescência e assim, a história se repete.
Agradeço a Deus a oportunidade de viver esse sentimento que edifica nossa fé, nos enche de coragem e de motivos para seguir em frente.
Maria do Carmo Stevanin e Carlos Silva, pais de Iris, Diana e Hélio Luan