Ex-feirante, modelo diz: 'acompanho minha mãe na feira desde bebê'

RIO – Bastou apenas um desfile para a capixaba Naira Lili dizer a que veio no mundo da moda. Exclusiva de Lenny Niemeyer na última edição da São Paulo Fashion Week, em abril, a modelo virou, sem querer, a sensação da temporada. Dona de um rosto com traços fortes e exóticos, ela comportou-se como veterana na apresentação. Mas duas horas antes de pisar na passarela, Naira já era assunto. Contamos em primeira mão no site do ELA que a estreante também vendia galinhas na feira com a mãe. Foram milhares de cliques e incontáveis ligações de produtores de TV.

— Trabalhava como babá de segunda a sábado; e, aos domingos, era feirante — comenta a modelo, de 19 anos. — Fiz o teste para o desfile da Lenny por vídeo, correndo, porque tinha feira e não podia deixar minha mãe sozinha. Acompanho-a desde que tinha 20 dias — acrescenta Naira, que fotografou este ensaio de capa no Belmond Copacabana Palace, com looks de grifes como Miu Miu, Prada, Burberry, Emporio Armani e Coach.

LONDRES

Quase dois meses após sua estreia na SPFW, Naira Lili fala toda prosa que sua vida deu uma guinada. Os antigos trabalhos ficaram para trás. Hoje, ela estuda inglês (“Só sabia o verbo to be”, diverte-se), tem nutrólogo, conheceu a atriz Marina Ruy Barbosa, ganhou uma graninha (“Mas não estou rica,” avisa) e brinca que tem andado mais de avião do que de ônibus.

— E consegui tirar minha mãe da feira — acrescenta. — O domingo passado foi o seu último. Ela tinha barraca há 26 anos. Sempre quis recompensá-la por seu esforço. Perdi o contato com o meu pai aos 7, quando ele se separou da minha mãe, e ela supriu todas as minhas necessidades e as dos meus irmãos. Nossa situação financeira era complicada. Até os 12, usava roupas de segunda mão. Mas, graças a Deus, nunca passamos fome.

Naira foi descoberta há um ano e meio pelo agente Anderson Bonella, da Andy Models, na feira do município da Serra (Espírito Santo), onde nasceu. Ela ficou com o cartão de Anderson, mas não levou muita fé. Achava que para ser modelo tinha que ser perfeita (“Tipo a Gisele Bündchen”, indica).

— Conversei com a minha mãe e ela falou: “Minha filha, você não tem nada a perder”. Visitamos a agência e vimos que era séria. Tínhamos medo de ser algo ligado à prostituição. A gente ouve cada história — relembra. — Aprendi a desfilar e a posar, mas não fazia muita coisa. Modelos negros, infelizmente, não trabalham tanto no Espírito Santo. Também não cuidava do corpo, do cabelo, pegava sol… Pensava que aparecer na hora marcada era suficiente. Mas não é assim que funciona.

CASAMENTO?

A capixaba nunca teve uma relação próxima com o universo fashion. “Minha realidade era diferente”, costuma dizer por aí. Conhecia Gisele e mais meia dúzia de tops que frequentam os programas de televisão: