Cotidiano

EUA liberam transcrições de ex-prisioneiros da CIA sobre tortura

WASHINGTON — O governo americano liberou nesta semana transcrições com depoimentos de ex-prisioneiros sobre as práticas de tortura da CIA. Os relatos foram feitos em audiências militares para ex-detidos.

Um deles é de Abu Zubaydah, que ficou preso na base militar americana de Guantánamo, em Cuba. Em uma audiência em março de 2007, ele contou ter sido afogado até parar de respirar e ser necessária uma reanimação.

“Eles me acorrentaram completamente, inclusive a minha cabeça. Eu não podia fazer nada”, relatou Zubaydah. “Eles colocaram um pano na minha boca e puseram água, água, água”.

Descrevendo um sentimento de humilhação, o ex-prisioneiro disse ainda ter sido “tratado como animal” por ser obrigado a usar um balde em vez de banheiro na frente de outras pessoas. Ele recordou ainda o tremor de seu corpo enquanto era colocado nu e algemado por horas em uma sala fria.

A divulgação das transcrições foi feita em resposta a uma ação da organização União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU, na sigla em inglês), que forneceu os documentos ao jornal “The New York Times”

Muitos detalhes sobre o programa de tortura da CIA, incluindo o tratamento a Zubaydah, já tinham sido tornados públicos. Mas as informações foram baseadas em grande parte e a memorandos do governo. Agora, as transcrições trazem testemunhos na primeira pessoa sobre as controversas técnicas de tortura da Inteligência americana.

— No momento em que alguns políticos estão propondo que o programa de tortura seja ressuscitado, é crucial que o público americano tenha acesso a estas declarações em primeira mão e não apenas os relatos oferecidos por aqueles que autorizaram a tortura — disse ao “New York Times” Dror Ladin, um advogado pessoal da ACLU.

O candidato virtual republicano à Casa Branca, Donald Trump, é um dos que propôs retomar e expandir essas práticas.

A CIA começou seu programa com a captura de Zubaydah em 2002, que foi erroneamente considerado um líder da al-Qaeda. Depois, em 2006, teve de encerrá-lo, após a Suprema Corte emitir uma decisão sobre a Convenção de Genebra que colocou os interrogadores da agência em risco de serem processados por crimes de guerra.