Cotidiano

Estado de SP acumula 800 mandados para distribuir ?pílula do câncer?

SÃO PAULO ? Às vésperas do início dos testes com a fosfoetanolamina sintética, a chamada ?pílula do câncer?, o governo de São Paulo já acumula 800 mandados expedidos pela Justiça para que o medicamento seja entregue a pacientes. Mas o secretário estadual de Saúde, David Uip, frisa que o remédio só está sendo produzido para pesquisa. A substância já foi entregue pelo laboratório PDT Pharma, em Cravinhos, interior de São Paulo, à Fundação para o Remédio Popular (Furp) há cerca de 15 dias, onde foi encapsulada e encaminhada ao Instituto do Câncer de São Paulo (Icesp), que comandará a pesquisa.

O secretário de Saúde disse que só está esperando um aval da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Conselho Nacional de Saúde (Conep) para os testes começarem. Ficou a cargo do órgão avaliar a segurança e a possível eficácia da substância.

Uip demonstra preocupação com a quantidade de liminares.

? Isso é absolutamente descabido e enlouquecido, porque o que nós encapsulamos é para protocolo, não para distribuição. Se tirar a pílula do Icesp, não teremos como fazer a pesquisa. O compromisso do estado é comprar o número necessário de pílulas para cumprir o protocolo. Não vamos comercializar, mesmo porque há um pedido de patente do pesquisador ? explica.

Em fevereiro deste ano, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, anunciou que a substância seria sintetizada para testes no tratamento do câncer pelo laboratório PDT Pharma. Na época, ele explicou que seriam avaliados, inicialmente, dez pacientes para determinar a segurança da droga.

Segundo Uip, a concentração de fosfoetanolamina entregue à Furp era diferente da que estava prevista. Por conta disso, segue explicando o secretário, o inventor da fórmula, o professor de Química aposentado Gilberto Chierice, da USP de São Carlos, precisou assinar um termo de aceitabilidade, ?entendendo que aquilo (diferença na concentração) era pertinente?:

? A última notícia que tenho, que é da segunda-feira passada, é que estavam analisando esse aditivo no protocolo. Assim que o Conep liberar, o teste estará pronto para começar. Chegou, é no dia seguinte ? diz Uip.

A fosfoetanolamina sintética se tornou polêmica com dimensão nacional em outubro de 2015, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) liberou o seu uso como medicamento experimental, derrubando decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo, que havia suspendido o fornecimento do remédio a 1.400 pacientes de câncer na cidade de São Carlos. Ela foi desenvolvida em 1990 por Chierice, professor de Química da USP de São Carlos.