Cotidiano

Especialista em luxo descobre espiritualidade na capital do ioga

Rishikesh, Índia – Um belo dia recebi o convite de uma amiga para ir à Índia. Ela, ao contrário de mim, é uma pessoa tranquila, mística, que não come carne e pratica meditação dirigindo no trânsito da Lagoa-Barra às seis da tarde. Ela não chega a ser xiita: bebe, sai para dançar e tem um lado zen caviar que eu adoro. O roteiro já estava fechado, era pegar ou largar, e eu acabei topando.

Começamos por Rishikesh, uma cidadezinha no norte do país, aos pés dos Himalayas, banhada por um Rio Ganges com águas límpidas e esverdeadas que descem diretamente da nascente. Sem ter muita ideia de onde tinha ido parar, descobri que ali era a Capital Mundial do Yoga e local de refúgio dos Beatles, onde encontraram inspiração para compor mais de 40 músicas, incluindo o White Album. Trata-se de um dos destinos sagrados para os hindus, que realizam cerimônias religiosas às margens do rio, entoadas por cantos, roupas em tons alaranjados, incensos e fogo. Nas pacatas ruas da cidade, o comércio é simples, com poucas lojas e farmácias de produtos naturais. Por ali, circulam calmamente algumas vacas, mochileiros e neo hippies europeus. A maioria dessas pessoas se hospeda em Ashrams, lugares de oração onde também é possível dormir e comer.

Para meu deleite, fiquei hospedado a 45 minutos dali, no alto de uma montanha, no Ananda Spa in the Himalayas, um dos melhores spas do mundo, que tem assíduos como Oprah Winfrey e Príncipe Charles.

Para quem quiser equilibrar corpo e mente, pode começar se consultando com um médico Ayurveda, que traça seu perfil de acordo com os três doshas: Vata, Pitta ou Kapha. Aproveitei para tirar uma casquinha e tentar alguma receita pras minhas crises de sinusite. Eis que umas gotas e uma pílula natural, vendidas nas farmácias por onde passei, se tornaram a solução de um problema que carrego há anos. Milagre? Não. A medicina Ayurveda é a mais antiga do mundo e considerada medicina oficial em um país com mais de 1 bilhão de habitantes.

Cada dosha dominante requer um tipo de alimentação específica. Uns podem leite, outros não podem; uns podem quente, outros frio, e daí por diante. Diariamente, o chef prepara três cardápios para quem quiser seguir a dieta ideal. Um quarto cardápio, com pratos elaborados da cozinha indiana e internacional, também está à disposição. No primeiro dia, tentei a tal dieta no almoço, mas à noite comi tudo e mais um pouco! Entendi que estar em paz significa fazer o que você quer e não ficar se privando de nada. O chef adorou minha ideia e o sommelier também. Descobri o Sula, um sauvignon blanc produzido na região de Mumbai que virou meu mantra em todas as refeições.

Entre as massagens, me permiti ser feliz e acabei me esbaldando com os 200 tipos de tratamentos do spa, com óleos quentes e outras feitas a quatro mãos. E o Yoga, bem, confesso que virei adepto. Desde então, pratico toda a semana.