RIO – Pioneiro da animação americana, Walt Disney (1901-1966) fundou a Walt Disney Company em 1923 (então com o nome Disney Brothers Cartoon Studio), a empresa de onde sairiam as animações mais memoráveis da História. Como produtor e realizador, ganhou 22 Oscars (sem contar outros quatro honorários) ? um recorde jamais superado. Mas seu maior mérito não tem relação com empreendimentos bem-sucedidos ou com a quantidade de prêmios. Foi ter criado as estruturas que permitiram o surgimento de desenhos animados que, a despeito do tempo e do avanço tecnológico, seguem na memória de milhões de espectadores.
Nos 50 anos de sua morte, completados no último dia 15, O GLOBO promoveu uma enquete no site do jornal para que leitores elegessem as melhores cenas dos chamados ?clássicos da Disney? ? animações feitas enquanto o artista era vivo. O resultado deu origem a um especial on-line, idealizado e produzido pela jornalista do Núcleo de Dados do GLOBO Gabriela Allegro. Nele, é possível conhecer 75 profissionais que trabalharam no estúdio Disney e cenas icônicas que cada um deles produziu (veja aqui). Entre as selecionadas, a mais votada na enquete foi a do espaguete em ?A Dama e o Vagabundo? (1955), na qual a cadelinha e o vira-lata se beijam desajeitadamente num jantar romântico.
? O que a Disney explorou com profundidade foi a humanização de animais, e isso é muito mais lúdico do que parece ? diz Aída Queiroz, diretora do festival Anima Mundi. ? ?A Dama e o Vagabundo? é sobre o amor proibido por diferença de classes, mas reconhecido por cozinheiros italianos, estereótipo do homem apaixonado. A cena é de muita delicadeza, e uma de suas sofisticações é que os cães agem como pessoas quando estão se comunicando entre eles e como cães quando interagem com adultos.
ESPECIAL: A rede criativa de Walt Disney
Para Aída, a facilidade de os filmes da Disney se conectarem com o imaginário e as fantasias individuais dos espectadores, ainda que em contextos fantásticos, é um dos maiores trunfos do estúdio. Ela dá como exemplo a cena em que Branca de Neve arruma a casa com a ajuda de animais, em ?A Branca de Neve e os sete anões? (1937), outra sequência bastante lembrada pelos leitores. Afinal, todo mundo que já fez faxina deve ter sonhado em ver o quarto arrumado no estalar de um dedo. Aliado a isso, está o apuro estético e narrativo. Links Disney
Entre passagens emblemáticas lembradas pelos leitores estão ainda a aparição do gato Cheshire em ?Alice no País das Maravilhas? (1951); a dança do urso em ?Mogli ? O menino lobo? (1967); e a remoção da espada pelo Rei Arthur em ?A espada era a lei? (1963). Mas foi o segmento ?O aprendiz de feiticeiro?, de ?Fantasia? (1940), que ficou registrado para sempre na memória de Anna Caiado, diretora de arte de ?Uma história de amor e fúria? (2013), animação brasileira pré-selecionada para o Oscar. Com música do compositor francês Paul Dukas, esse episódio de ?Fantasia? se inspirou no poema homônimo de Goethe para colocar Mickey no papel de um aprendiz tentando copiar (sem muito sucesso) os truques de mágica do mestre.
? Disney pediu que os artistas e animadores interpretassem cada música separadamente, usando só imagens em ação. Isso me dá a certeza de que ele queria usar a animação para transmitir experiências visuais incomuns, um espetáculo sensorial. Sem roteiro tradicional, o filme ficou entre o abstrato, o maluco e o lindo de ver ? diz Anna.
Para Otto Guerra, diretor de ?Até que a sbórnia nos separe? (2013) e ?Wood & Stock: Sexo, orégano e rock?n?roll? (2006), o legado dos clássicos da Disney segue relevante numa era em que a computação gráfica domina a técnica de animação:
? O que se criou foi um estilo arrasa-quarteirão. Até no Brasil, nosso primeiro e por muito tempo único longa animado, ?Sinfonia amazônica? (1951), de Anelio Latini, era literalmente copiado da Disney.