Cotidiano

Erdogan ameaça Holanda e acusa Merkel de 'apoio impiedoso ao terror'

Turkey Netherlands-GL735DQCF.1.jpgANCARA – O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, endureceu ainda mais o tom contra Alemanha e Holanda após autoridades de ambos os países terem impedido dois ministros turcos de participar de comícios em apoio a ele diante da comunidade turca nas nações. Enquanto o presidente voltou a acusar o governo alemão de apoiar terroristas, apontando o dedo diretamente para a chanceler federal Angela Merkel, ele ameaçou ir à Corte Europeia de Direitos Humanos contra os holandeses.

? A Alemanha está apoiando impiedosamente o terrorismo ? afirmou Erdogan num pronunciamento na TV, citando a chanceler alemã. Erdogan

No discurso, Erdogan ainda ameaçou com a imposição de sanções diplomáticas à Holanda, e uma ida à Corte Europeia de Direitos Humanos. A crise foi desencadeada no sábado, quando a Holanda expulsou a ministra turca da Família, Fatma Betul Sayan Kaya, e negou a autorizar uma visita do chefe da diplomacia turca, Mevlut Cavusoglu. Erdogan chegou a considerar em um discurso que os holandeses estava se comportando “como uma república de bananas”.

A União Europeia (UE) apelou a Ancara que “se abstenha de toda declaração excessiva e ação que possa exarcerbar a situação”, após Erdogan prometer que a Holanda “pagará um preço alto” pelo tratamento dado aos ministros, que, segundo ele, recordam “o nazismo e o fascismo”.

? É essencial evitar uma nova escalada e encontrar os meios de acalmar a situação ? acrescentou a UE em uma declaração da chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini.

Apesar de o processo de adesão da Turquia à UE esteja em um impasse, Ancara continua a ser um parceiro estratégico do bloco, principalmente na gestão do fluxo de migrantes.

Mas um ministro turco citou nesta segunda-feira uma possível “análise” do pacto sobre a luta contra a imigração concluído há um ano.

? A Turquia deve reavaliar a questão ? declarou o ministro dos Assuntos Europeus, Omer Celik, citado pela agência pró-governo Anadolu.

REFERENDO PODE DAR AINDA MAIS PODER A PRESIDENTE

Os dois diplomatas turcos iriam participar de comícios para promover entre os turcos nesse país o ‘sim’ no referendo constitucional previsto para 16 de abril na Turquia que visa a reforçar os poderes de Erdogan. A presença de políticos turcos nesses comícios deu lugar nas últimas semanas a confrontações entre Ancara e várias capitais europeias, o que não aconteceu em período eleitorais anteriores. A Turquia convocou nesta segunda-feira pela terceira vez em três dias o encarregado de negócios holandês para protestar contra o “tratamento dado aos ministros e cidadãos turcos na Holanda”, segundo fontes oficiais.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, também pediu aos países da Aliança Atlântica que “contribuam para uma desescalada das tensões” diplomáticas entre a Turquia e alguns países europeus.

? Eu incentivaria a todos os aliados a mostrar um respeito mútuo, a manter a calma e ter um enforque comedido para contribuir para uma desescalada das tensões ? declarou Stoltenberg à imprensa.

Neste contexto de extrema tensão, a Holanda pediu nesta segunda-feira a seus cidadãos na Holanda que fiquem “vigilantes” e evitem “as concentrações e locais muito lotados”.

Durante o fim de semana, houve várias manifestações diante das representações diplomáticas holandesas em Istambul e Ancara. Segundo Soner Cagaptay, analista da Turquia no Washington Institute, “Erdogan busca inimigos estrangeiros imaginários para conquistar sua base nacionalista às vésperas do referendo. É simples assim e os holandeses caíram na armadilha, invés de ignorar o referendo a favor de Erdogan”. Cinco números alarmantes sobre os expurgos na Turquia