Que faltam professores em vários cursos disponibilizados pela Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná) já não é mais novidade para ninguém. Porém, você já tentou imaginar como é para um surdo cursar uma graduação sem um intérprete? Parece impossível, mas é essa a realidade de muitos acadêmicos dos cinco campi da Universidade, inclusive de Cascavel.
“Na Unioeste, tem aluno do curso de Ciência da Computação e de mestrado sem intérprete perdendo todo o conteúdo. A barreira não é o surdo, pois ele só não aprende porque não tem acesso, está lá dentro da sala de aula, o professor falando, mas ele não entende porque não tem o intérprete de Libras [Língua Brasileira de Sinais]. Se, por exemplo, ele tiver dúvidas ou quiser fazer uma pergunta, o professor vai conseguir ajudar? Eles só sabem o básico, um A B C D num alfabeto digitalizado. A comunicação é muito mais profunda do que isso”, desabafa a presidente da Surdovel (Associação de Surdos de Cascavel), Gisele Zaffari.
O estudante de Filosofia, Julio Marcos de Souza, é uma das exceções, mas por pouco tempo. “Tenho professor intérprete, no entanto, seu contrato vence em novembro e não sei como vai ser depois disso”, diz. A presença do intérprete em turmas em que haja alunos surdos matriculados é obrigatória e exigida por lei. Sem ele, que é o responsável por transmitir ao estudante todo o conteúdo ministrado pelo professor por meio da Língua Brasileira de Sinais, os prejuízos ao discente são incalculáveis. “Eles dizem que tem acessibilidade, mas é uma acessibilidade falsa, de mentira”, relata Souza.
Concurso
Os estudantes surdos não pedem muito. A reivindicação é de que o Governo do Paraná abra concurso público para suprir essa demanda. “Em anos anteriores, enquanto a Unioeste conseguia fazer teste seletivo, que não é o certo, ainda assim supria a necessidade. Agora, já tem um tempo que nem isso é feito”, afirma Gisele.
Conforme a Seti (Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior), as universidades estaduais têm autonomia para realizar concursos públicos desde que existam vagas autorizadas, que são abertas quando há pedidos de exoneração ou falecimento. No caso da Unioeste, a própria instituição deve avaliar o quadro e se possui essas vagas autorizadas, para daí sim realizar o concurso.
Ato público
Hoje, a partir das 14h, o Fórum Municipal em Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência organiza um ato público, no calçadão da Avenida Brasil, em alusão ao Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, abordando direitos garantidos por lei que infelizmente não são cumpridos.