FORTALEZA – Enquanto candidatos do PT pelo Brasil tentam omitir os símbolos do partido para driblar a forte rejeição derivada do desgaste com a crise política e econômica e as denúncias no âmbito da operação Lava-Jato, a campanha da ex-prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, que tenta voltar ao cargo, se destaca pelo uso constante de referências petistas. Ela não tem economizado nas estrelas brancas características da legenda, nem no vermelho, que colore seus eventos de campanha, seu comitê e as propagandas de televisão.
Outro ícone do PT que Luizianne usa em sua campanha é o ex-presidente Lula. O líder petista já esteve duas vezes em Fortaleza, a primeira delas no lançamento de sua candidatura, quando Lula informou aos irmãos Cid e Ciro Ferreira Gomes ? seus aliados no plano nacional ? que o PT teria o maior número de candidatos possível no país para se defender e que ele estaria presente em alguns palanques com o mesmo intuito. A segunda vez foi há duas semanas, em um comício, para participar de eventos com a aliada. A presença de Lula, no entanto, não surtiu efeito no sentido de melhorar a aceitação de Luizianne entre os eleitores. Segundo as mais recentes pesquisas, ela está em terceiro lugar na disputa e tem o maior índice de rejeição entre os candidatos.
Ao GLOBO, Luizianne justifica que sua decisão foi orientada mais pela tentativa de resgatar o PT e defender Lula do que de alavancar sua campanha. A petista lembra que, apenas um dia antes da ida de Lula a Fortaleza, ele se tornara réu pela segunda vez na operação Lava-Jato, por corrupção e lavagem de dinheiro. A candidata diz que quis aproveitar o momento para prestar seu apoio.
? Na véspera da vinda dele, ele se tornou réu. Queria aproveitar o momento para fazer um ato de apoio a ele e defender o nosso legado. E esse espaço da campanha é o que a gente tem para isso, é um momento importante para esclarecer os fatos. Não seria honesto esconder Lula. Achava que tinha a obrigação política de fazer com que esse momento tivesse uma defesa do Lula e da reconstrução do PT ? afirma.
Apesar do gesto, Luizianne reconhece que o momento é difícil para o PT. Hoje, o partido está sozinho na disputa pela prefeitura de Fortaleza. Ela lembra que, em 2012, na era pré-Lava-Jato e pré-impeachment, a coligação petista era composta por 12 partidos, o que rendia extenso tempo de propaganda de rádio e TV, além de generosa porção do Fundo Partidário. O atual prefeito, Roberto Cláudio (PDT), que tenta a reeleição, tem 18 legendas em sua coligação.
? O processo político nacional nos isolou muito. Aqui, é PT com PT, muito diferente de como foi em 2012, com 12 partidos coligados. Por conta do isolamento, temos menos tempo de TV que os outros candidatos. O processo de criminalização do PT é uma forte adversidade na campanha. A política brasileira está sendo criminalizada, mas a carga é mais forte sobre o PT. Em parte, porque era o PT que estava no governo, mas também porque as elites brasileiras não se conformam com a mudança de rota que o partido trouxe ? defende.
A deputada critica os adversários, Roberto Cláudio e o deputado estadual Capitão Wagner (PR), primeiro e segundo colocados nas pesquisas, por esconderem seus padrinhos políticos. O prefeito tem o apoio dos irmãos Ciro e Cid Gomes, e o deputado foi apadrinhado pelos senadores Tasso Jereissati (PSDB) e Eunício Oliveira (PMDB). Ela diz que, mesmo diante da situação de Lula, não se sentiria bem consigo mesma se o omitisse em sua campanha.
? Temos pesquisas internas que mostram que Lula ainda é o maior influenciador de votos em Fortaleza. E acho natural e justo que se mostre para as pessoas com quem você está aliado. Além disto, eu quis passar a mensagem de que confio no presidente Lula. Hoje, há uma perseguição às lideranças nacionais do partido. Não me sentiria bem comigo mesma se não enfrentasse esse momento em que o partido precisa de mim. Existe um processo deliberado de desconstrução da imagem do PT e do presidente Lula. Estou tentando fazer a minha parte ? diz.