Cotidiano

Em discurso, Dilma nega ter cometido crime de responsabilidade e pede votos contra o impeachment

BRASÍLIA ? Aos senadores, a presidente afastada Dilma Rousseff relembrou em discurso na sessão de julgamento do impeachment sua trajetória política e negou ter cometido crime de responsabilidade. Durante 45 minutos, a petista lembrou conspirações sofridas pelos ex-presidentes Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e João Goulart, e, como previsto, ressaltou que a ?história observa? o julgamento na Casa. Também falou em ?golpe? e fez um apelo para que os senadores votem contra seu afastamento.

? Não luto pelo meu mandato, nem por vaidade. Luto pela democracia, pela verdade, pela Justiça. Sei que em breve, e mais uma vez na vida, serei julgada. E por ter minha consciência absolutamente tranquila do que fiz, é que venho olhar diretamente nos olhos de Vossas Excelências dizer que não cometi os crimes dos quais sou acusada, injusta e arbitrariamente ? afirmou.

A sessão, iniciada às 9h39m, foi suspensa por alguns minutos, quando Dilma terminou sua fala e senadores a aplaudiram. O presidente do STF e do processo, Ricardo Lewandowski, avisou que suspenderia a sessão, em caso de manifestações.

Dilma afirmou que o processo de impeachment coloca em jogo a “conquista da estabilidade, que busca o equilíbrio fiscal, mas não abre mão de programas sociais para a população”.

? O que está em jogo é a esperança de avançar sempre mais. Senhoras e senhores senadores, no presidencialismo não basta a maioria de perda parlamentar para afastar um presidente. Há de se configurar um crime de responsabilidade. Não está legítimo afastar um chefe de estado e governo por não concordar com o conjunto da obra. Só o povo pode, nas eleições. E o programa de governo vencedor nas eleições não é esse. O que pretende o governo interino é um verdadeiro ataque às conquistas dos últimos anos ? acusou.

A petista também lembrou a instalação da ditadura militar:

? O presidente João Goulart, defensor da democracia, dos direitos trabalhistas e das reformas de base, superou o golpe parlamentarista, mas foi deposto e instalou-se a ditadura militar. Durante 20 anos vivemos o silêncio imposto pelo arbítrio e a democracia foi varrida de nosso país. Hoje, mais uma vez, ao serem contrariados e feridos nas urnas os interesses de setores da elite econômica e política, vivemos um rompimento democrático. As provas produzidas deixam claro e incontestáveis que não há argumentos. Nos últimos dias, novas fatos evidenciaram a trama. O autor da representação junto ao TCU, que motivou as acusações discutidas nesse processo, foi reconhecido como suspeito pelo presidente do STF. Fica claro a parcialidade, a trama por eles defendida.