ALEPPO ? Os caminhos abertos para levar suprimentos humanitários a Aleppo já são chamados de ?corredores da morte? pelos civis da cidade síria. A abertura dos acessos foi anunciada ontem pela Rússia, enquanto o cerco do regime sírio vem sendo reforçado para pressionar a rendição dos rebeldes que controlam zonas da cidade. Embora o objetivo seja oferecer um caminho para a entrada de alimentos e suprimentos médicos ? e uma rota de fuga para civis ?, os acessos, na verdade, se tornaram um novo foco para os conflitos entre insurgentes e tropas do regime.
Há relatos de que os habitantes dos bairros rebeldes de Aleppo se escondem dentro das suas casas nesta sexta-feira, um dia após a criação dos corredores humanitários. Ativistas que as ruas estavam desertas, enquanto todos temiam a violência nos acessos.
? Não há corredores humanitários em Aleppo. Os corredores dos quais os russos falam, os moradores de Aleppo chamam de ‘corredores da morte’ ? declarou Ahmad Ramadan, membro da Coalizão de oposição no exílio. Ele denuncia a destruição completa e sistemática da cidade como uma tentativa de pressionar seus habitantes.
? A mensagem brutal para o nosso povo: partam ou morram de fome ? afirmou, por sua vez, Bassma Kodma, outro membro da oposição.
Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), apenas uma dúzia de pessoas conseguiu sair através de uma das vias abertas na quinta-feira.
?Logo os grupos rebeldes reforçaram as medidas de controle em relação aos corredores, impedindo que os habitantes se aproximassem?, afirmou o observatório. ?Concretamente, os corredores estão fechados do lado rebelde da cidade.?
Após semanas de bombardeios e cerco dos bairros rebeldes, o regime abriu corredores para incentivar a rendição de combatentes e prestar auxílio humanitário aos civis. Centenas de milhares de pessoas sofrem com a falta de alimentos e de equipamentos médicos na cidade sitiada. No entanto, a oposição, analistas e rebeldes questionam essa intenção.
As tropas do governo sírio já utilizaram repetidamente os cercos como tática para levar as cidades controladas por rebeldes a se render por conta da fome. Agora, ativistas temem que a mesma estratégia seja empregada em Aleppo, onde vivem até 300 mil pessoas sob o controle dos insurgentes.
A França afirmou nesta sexta que os corredores humanitários não são uma resposta concreta para a situação de Aleppo. O governo francês considerou que o direito internacional humanitário exige que a ajuda humanitária possa ser entregue com urgência às populações sitiadas.
? O povo de Aleppo tem que ficar em suas casas com segurança e obter toda a ajuda de que necessitam. Esta é a prioridade ? insistiu o porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Romain Nadal.
Já a ONU se ofereceu para controlar os corredores humanitários, segundo informou Staffan de Mistura, enviado especial para a Síria.
Enquanto a ofensiva das tropas sírias eleva as tensões, pelo menos 10 civis morreram em ataques aéreos nos arredores da cidade, segundo o OSDH. A maioria das vítimas era de mulheres e crianças.
O regime também retomou os bombardeios contra os bairros rebeldes de Aleppo, onde vivem cerca de 250 mil habitantes. A antiga capital econômica da Síria está dividida desde 2012 entre bairros controlados pelo regime no oeste e nas zonas do leste, nas mãos dos insurgentes.
As tropas do presidente Bashar al-Assad tentam há meses reconquistar o setor rebelde, cercado desde 17 de julho. O Exército lança barris de explosivos e bombardeios, com o respaldo e a participação da força aérea russa.
Segundo analistas, a perda de Aleppo pelos insurgentes pode significar o início do fim da rebelião. Este poderia representar um ponto de virada determinante na guerra síria, que já deixou mais de 280 mil mortos em cinco anos.