BRASÍLIA ? Executivos da Odebrecht citaram Anderson Dornelles, ex-assessor da presidente afastada Dilma Rousseff, como destinatário do recebimento de dinheiro da construtora. A afirmação foi feita na fase preliminar da negociação da delação premiada e ainda terá que ser detalhada nos anexos da colaboração, a serem entregues pelos advogados da Odebrecht até o fim do mês.
Ainda não há consenso dentro da própria empreiteira se a delação ligará Dilma à entrega desses recursos. Os executivos têm dado informações conflitantes à força-tarefa da Lava-Jato sobre os repasses. Numa das situações descritas, Dornelles teria pedido o dinheiro diretamente à construtora. Em outro momento, executivos também falaram que a própria presidente teria pedido ajuda para Dornelles. A exemplo da informação de que Dilma teve despesas pessoais pagas pela construtora, os investigadores da operação têm sido cuidadosos com o que têm ouvido.
? É comum haver afirmações na fase da negociação que não se concretizam nas etapas posteriores ? alertou uma fonte envolvida nas conversas.
Em março, um sócio de Dornelles foi alvo da Operação Xepa, a 26ª fase da Lava-Jato, por suspeita de receber R$ 50 mil da Odebrecht. A Polícia Federal levou Franzoni coercitivamente para depor em Porto Alegre, com o objetivo de esclarecer a suspeita de entrega de R$ 50 mil para um endereço dele em Brasília. Franzoni é sócio de Dornelles no Red Bar, empreendimento dentro do estádio do Internacional, o Beira-Rio, em Porto Alegre.
O Red Bar foi o pivô da saída de Dornelles do cargo de assessor de Dilma em janeiro deste ano, devido ao temor no Palácio do Planalto que ele aparecesse na delação de executivos da Andrade Gutierrez, construtora responsável pela reforma e administração da parte do Beira-Rio em que fica o bar.
Oficialmente, Anderson disse em janeiro que deixava o cargo de assessor porque iria casar. Assessores e ministros do Planalto afirmaram, no entanto, que ele e Dilma tiveram uma dura conversa sobre o Red Bar, que teria resultado na sua saída.
Dornelles, de 36 anos, conheceu Dilma ainda em Porto Alegre, aos 13. Ele a assessorou durante todo o governo Lula, sendo o responsável por carregar a bolsa e o tablet de Dilma. Era ele também que atendia o celular da presidente. Chamado por ela de ?menino?, gostava de mostrar a outros funcionários do Palácio do Planalto sua intimidade com a presidente. A proximidade era tanta que alguns entendiam que Dilma o tinha como um filho. Nos últimos meses, a relação entre os dois esfriou a tal ponto que Dilma faltou ao casamento.
O GLOBO não conseguiu contato com Dornelles nem Franzoni.