RIO – Astrônomos revelaram nesta quarta-feira uma descoberta que vinha gerando rumores há meses no meio científico. Não por menos. A equipe de cientistas identificou um planeta pequeno e provavelmente rochoso orbitando a estrela mais próxima do Sol, chamada Proxima Centauri.
Encontrar planetas com características parecidas com as da Terra é algo extremamente raro e comemorado por pesquisadores que se dedicam à busca de vida fora do nosso mundo. No estudo sobre a descoberta, publicado na revista “Nature”, os seus autores explicam que o planeta recém-descoberto, batizado de Proxima b, tem massa apenas cerca de 30% maior que a da Terra e que as condições de temperatura lá, teoricamente, permitem a existência de água em estado líquido na sua superfície.
Além disso, a maioria dos milhares de planetas extrassolares descobertos até hoje estão a milhares de anos luz da Terra. Mas a Proxima Centauri é uma estrela-anã que fica a “meros” quatro anos-luz de distância do nosso Sistema Solar. É uma das mais estudadas estrelas de pouca massa. A “vizinhança” com o Proxima b enche de esperanças os astrônomos, que agora pretendem analisar exaustivamente o “novo mundo” para saber se o planeta tem uma atmosfera e se existe água em estado líquido na sua superfície.
iProfessor da Universidade de Londres, no Reino Unido, o astrônomo Guillem Anglada-Escudé e dezenas de colegas encontraram o Proxima b depois de analisar dados coletados por dois telescópios do Observatório Europeu do Sul (ESO, na sigla em inglês) entre 2000 e 2014 e por meio de uma série de observações de janeiro a março deste ano. Para tanto, eles se basearam no efeito Doppler, o que torna posssível identificar minúsculos movimentos de uma estrela resultantes da força gravitacional de um planeta que a orbita.
Animação representa o planeta Proxima B orbitando a estrela Proxima Centaur
Segundo os pesquisadores, as observações sugerem a presença de um planeta quente e de massa parecida com a da Terra, que orbita a estrela Proxima Centauri a cada 11,2 dias, a uma distância de 7,5 milhões de quilômetros, o que representa apenas 5% da distância entre a Terra e o Sol. O período orbital leva a crer que o planeta está numa zona em que a temperatura de sua superfície poderia, em tese, comportar água em estado líquido. Mas esta suposição ainda precisa ser investigada.
Um dos senões para se acreditar na possibilidade de vida como conhecemos no Proxima b é justamente a sua distância da Proxima Centauri. A proximidade da estrela significa que o planeta sofre com uma influência muito mais intensa de raios-X do que a observada na Terra. Não se sabe, por exemplo, se o mundo revelado nesta quarta-feira tem, assim como o “planeta azul”, um campo magnético para protegê-lo dessa radiação.
Por outro lado, como a Próxima Centauri é uma estrela de menos intensidade que o Sol, presume-se que, mesmo com a pouca distância entre astro e planeta, a temperatura no Proxima b pode não ser extrema. Para desvendar tudo isso, e muito mais, a equipe de astrônomos acredita que, nos próximos séculos, a exploração de Proxima b com robôs pode se tornar possível.
“A Proxima Centauri vai existir por muitas centenas ou até milhares de vezes mais do que o Sol. Qualquer forma de vida no planeta pode ainda estar se desenvolvendo muito depois de nosso Sol morrer”, escreve o especialista Artie Hatzes, num artigo que acompanha o texto sobre a descoberta.