?Tenho 62 anos. Sou físico de formação, mas pensei que precisava lidar com gente. Fiz mestrado em Eficiência Energética, o que me levou à Companhia Energética de São Paulo. Saí envolvido com a causa socioambiental. Fui convidado pelo Greenpeace Internacional para estudar o contexto do Brasil, em 1989. Fiquei na Índia por um ano.?
Conte algo que não sei.
Entre as ações contra a mudança climática, a mais fácil é o banimento dos HFC (hidrofluocarbonetos) nas geladeiras e nos aparelhos de ar condicionado. Em Nova York, durante a Assembleia da ONU, 105 países e associações de indústria pleitearam uma emenda ao Protocolo de Montreal, para antecipar a data em que devem congelar o consumo de HFC, que contribuem para o aquecimento global. Com isso aprovado, a gente terá feito 10% do que precisa. É fantástico, independe de combustíveis novos ou de mudar um sistema energético inteiro. Há substitutos no mercado. É a fruta que está madura no pé. Se ninguém pegar, vai apodrecer.
Ajudar o meio ambiente levantaria a indústria brasileira?
De que adianta gastar menos dinheiro para colocar no mercado um produto de refrigeração que não vai competir internacionalmente? Muitas vezes, assumir os compromissos ambientais é promover a competitividade industrial. Foi por isso que o Brasil acelerou as medidas de retirada do HFC. Hoje, com custo elevado, gastamos três vezes mais energia que os chineses em um mesmo produto. O governo, que ficou de fora dessa ação em Nova York, precisa assumir esse compromisso. A Abrava, associação do ramo, já assumiu. Se a gente não entrar para ganhar, vamos perder mais uma indústria.
E qual a dificuldade de implementar? É dinheiro?
Sim, o investimento inicial é alto. Desconheço um país que queira barrar. Mas há aqueles propensos a agir mais rapidamente. Os africanos querem que o limite seja 2019; a Índia, 2030. O uso desse gás cresce de 7% a 10% todo ano. No Brasil, de 10% a 15%. A razão tem a ver com política industrial. A Índia tem a prática política de ?fazer doce?, para conseguir mais investimento externo, e acha que é a próxima China. Que venham os poluidores, depois consertam os problemas, eles pensam. No Brasil, a euforia não é nosso pique momentâneo. O país precisa agora pensar o que quer ser no futuro.
Para onde o Brasil caminha?
Viemos na toada da indústria de base grande. Perdemos quase tudo. O petróleo está estagnado. Como vai ser a retomada? Siderurgia mesmo ou indústria de ponta? Essa discussão falta aqui. Em 2050, não haverá mais lugar para petróleo e carvão, pelo menos da forma que usamos hoje. Temos 34 anos para mudar. Índia, China e Alemanha investem em energias alternativas, que hoje já são mainstream. Estão seguindo o farol do Acordo de Paris e, nesse caminho, criam a indústria do século XXI. E nós continuamos a vender ferro e soja em bruto. Há muita necessidade social para ficarmos parados de boca aberta.
Percebe mudanças na narrativa da pauta ambiental?
O Brasil mudou a narrativa do desenvolvimento a qualquer custo, uma proposta da ditadura. Na época, Europa e EUA questionavam as poluidoras, mas estávamos abertos à vinda da indústria pesada, porque precisávamos crescer. Depois, passamos a uma institucionalização da questão ambiental que não permite mais isso. Há secretarias do Meio Ambiente em prefeituras, em governos de estado; temos Ministério do Meio Ambiente. Embora seja muito mal interpretado, esse cuidado existe e evita loucuras.
Então, flexibilizar o licenciamento ambiental é retrocesso…
É, até porque o Brasil guarda uma experiência enorme em fazer licenciamento ambiental. Nossa legislação é superior a de muitos países desenvolvidos.