Cotidiano

Déficit energético trava avanço do agronegócio

Medianeira – Um relatório entregue pelo Programa Oeste em Desenvolvimento na sexta-feira passada à Copel (Companhia Paranaense de Energia Elétrica) detalha problemas extremamente preocupantes para o setor produtivo de toda a região. Não bastassem os gargalos em infraestrutura e logística para transporte e escoamento, todos os municípios do oeste enfrentam um grave problema de deficiência energética, sem exceção.

Isso porque, além de não haver redes suficientes para distribuição desta energia elétrica, a qualidade do que é entregue também deixa a desejar com quedas e picos constantes que colocam planteis de aves e suínos em xeque, além das produções leiteiras e as ameaças às máquinas dentro das indústrias que acabam sucumbindo diante de tantos vai e vem do sistema.

O problema é tão grave e está comprometendo tanto o setor produtivo que esse será um dos temas centrais do 4º Fórum do Programa Oeste em Desenvolvimento que será realizado no dia 11, quarta-feira, em Medianeira.

Em busca de soluções

O grupo multidisciplinar que vai reunir líderes políticos e empresariais quer tratar da temática com representantes da Copel Distribuidora, que já teriam confirmado presença no encontro.

Esses entraves têm sido tão limitadores à expansão produtiva que cooperativas e frigoríficos têm deixado de ampliar suas produções porque não há capacidade de fornecimento de energia no campo para construção de novos aviários e chiqueirões e não há fornecimento de mais energia para ampliação do abate nas indústrias.

“Não há energia disponível, falta rede de transmissão e não tem rede energética de qualidade com quedas frequentes na transmissão. Nas conversas que tivemos com a Copel nos foi passado que a companhia fará um trabalho diferenciado no oeste, como é a proposta do chamado Clique Rural, quando tem a queda há a religação automaticamente”, afirmou o presidente do programa, Danilo Vendruscolo.

Ele lembra que o estudo entregue à Copel semana passada teve como base quase seis meses de levantamento de dados no oeste. “E o que se concluiu é que o problema está tanto na distribuição quanto na qualidade, por isso é necessário fazer esse trabalho conjunto de melhoramento nos dois sistemas”, reforçou.

O problema originário não estaria apenas com a distribuição feita pela Copel, mas no sistema de regulação da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). Os problemas se agravaram a partir de 2014, quando a então presidente Dilma Rousseff determinou a redução das tarifas, provocando uma espécie de sucateamento do sistema da Aneel.

Energia limpa tributada

Uma das soluções que se apresentaria como viável, e funcionaria como alternativa, é a geração de energia limpa a partir das placas solares ou implantação de biodigestores nas propriedades. Essa produção supriria as quedas, principalmente nos horários de pico, evitando a mortalidade de animais nas granjas e nos aviários. Ocorre que o Paraná ainda é um dos poucos estados brasileiras onde a chamada energia limpa é tributada, tornando essa prática extremamente cara e inviável ao produtor.

Indústria terá de investir R$ 20 milhões na ampliação da rede

Essa deficiência energética também está tirando dinheiro do caixa das empresas que poderiam ser investidos na ampliação da estrutura para criação de novos empregos.

Este é o caso da Frimesa, que está construindo uma unidade em Assis Chateaubriand, mas que encontrou uma pedra no caminho. No distrito onde a unidade será construída não chega a rede de alta tensão. Em uma parceria que está sendo fechada com a Copel, a empresa terá que desembolsar quase R$ 20 milhões para a ampliação do sistema: “Será um projeto grande que será executado em duas etapas. Como o consumo de energia é elevado, na região onde nos instalaremos não tem rede de alta tensão para a distribuição em 138 kv (quilovolt), a normal é em torno de 58 kv, mas para a indústria a transmitida precisa ser de 138 e depois rebaixada com subestação dentro do pátio da indústria, mas como realmente não tem a alta tensão, o que está ajustado até agora é que a Copel vai trazer a rede de Cafelândia até Assis Chateaubriand e a empresa está negociando o investimento para a ampliação de subestação trazendo essa rede por cerca de 20 quilômetros até a unidade, além da construção da subestação dentro do pátio da empresa. Toda essa soma daria quase para construir outra unidade, cerca de R$ 20 milhões”, reforçou o diretor-presidente da indústria, Elias José Zydek.

Elias reforça que hoje o oeste vive duas situações distintas que travam o crescimento produtivo. Uma delas é que, se as principais cidades do oeste quisessem ampliar seus frigoríficos e abatedouros, não encontrariam energia disponível no sistema; a outra é a qualidade da distribuição da energia, que é ruim. “Isso se repete em Palotina, Medianeira, Toledo Marechal Cândido Rondon (…) Muita gente pensa que por estarmos perto da Itaipu não poderia faltar energia, mas o que a Itaipu gera vai para São Paulo e outros pontos do País. Enquanto isso, essa deficiência está travando o crescimento da região com redes muito antigas e danificadas que causam quedas frequentes nos aviários e nos chiqueirões. Esta oscilação também prejudica as máquinas com queima frequentes dos motores”, acrescenta.

Questões como essas estariam inclusive limitando a ampliação dos contratos de abete e do aumento da produção.

Os investimentos que o frigorífico fará ficarão disponíveis para o Estado, que vai lhe cobrar a passagem de energia pelo sistema que ele mesmo ajudou a construir. “Quando o empresário pede estímulo do governo, a gente quer infraestrutura, ferrovia, aeroporto, os líderes precisam se unir e reivindicar essas bandeiras”, concluiu.