LONDRES – Analistas de três instituições da City of London (distrito financeiro de Londres) esperam que o custo do ?Brexit duro? proposto pela primeira-ministra Theresa May possa aumentar entre 5% e 10% do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas e serviços produzidos) do Reino Unido até 2030. Hoje, isso equivaleria a um valor de 100 bilhões de libras a 200 bilhões de libras. Esta é a estimativa da perda do PIB em relação ao patamar no qual a economia estaria se não fosse o Brexit
Na semana passada, May declarou que o governo espera sair do mercado único europeu e, no lugar disso, estabelecer um acordo de livre comércio com o restante da União Europeia.
Em nota aos clientes, Rob Wood, economista-chefe do Bank of America Reino Unido, destacou que há uma incerteza inerente ao impacto a longo prazo do Brexit, mas inficou que ?evidências sugerem? que o custo será ?da ordem entre 5% e 10% do PIB em até 15 anos?.
A visão é corroborada por Kallum Pickering, economista do banco Berenberg, que estima que menos migração, comércio e investimento entre o Reino Unido e a Europa devido à saída do mercado comum poderia reduzir o crescimento em potencial do país em 1,8% por ano, ante previsão anterior ao referendo de 2,2%. Isso implicaria uma perda no PIB de cerca de 5,5% até 2030.
Já o economista-chefe da corretora Panmure Gordon, Simon French, espera que o Brexit reduza o ritmo de crescimento de 2,3% para 1,9% a partir de 2020, o que também indica impacto de cerca de 5% no PIB.
?Isso depende principalmente de uma redução a longo prazo da migração líquida para 105 mil por ano, sustentada por um desvio de comércio através de uma diferenciação de barreiras não-tarifárias e acentuados encargos administrados decorrentes da perda da união alfandegária?, afirmou French.
As estimativas dos economistas estão em linha com a previsão do Tesouro britânico antes do referendo, de impacto de 6,2% no PIB até 2030.
REDUÇÕES SALARIAIS
A decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia vai levar a mudanças dramáticas na forma como a economia do país opera. E as pessoas sentiriam fortemente essas mudanças. Segundo Guy Hands, presidente do conselho da Terra Firma Capital Partners, com o Brexit, o Reino Unido terá de se livrar de boa parte das medidas de segurança social, e os salários podem despencar 30% ao longo dos próximos 20 anos, para tornar o Reino Unido competitivo fora da Europa.
Apesar dos pontos negativos, ele avalia que, no fim das contas, o Brexit será positivo para a economia.
? O ponto ligeiramente triste é que o povo que votou pelo Brexit não é o povo que terá que fazer esses sacrifícios ? afirmou Hands à Bloomberg. ? Isso não é incomum para grandes decisões políticas quando as pessoas não analisam quais são as consequências econômicas.
A primeira-ministra britância, Theresa May, afirmou este mês que o país deixaria o mercado único europeu, separando a influência do bloco econômico sobre as leis e regras de imigração do Reino Unido. A líder busca preservar o comércio livre de tarifas entre o país e o continente e também garantir a liberdade para novos acordos com outros países.
O Brexit também trará oportunidades para fundos compradores, afirmou Hands. Com juros mais altos, alguns negócios tendem a ir à falência, abrindo caminho para aquisições.
Ainda assim, ?dada a incerteza do futuro imediato, é difícil avaliar com os investidores agirão?, afirmou Hands em comunicado separado na quinta-feira.
?Os especialistas erraram no ano passado, e se quisermos prever o que acontecerá em 2017, é melhor olharmos para as estrelas também.