RIO – Em 1991, com a canção ?Under the brigde??, o Red Hot Chili Peppers dava provas de que não era apenas uma alegre e sacana usina de funk-rap-rock ? melancolia e melodia também lhe caíam bem, e, mais que isso, acabariam por conduzi-lo a públicos muito maiores do que seus músicos poderiam sonhar. Trinta e três anos após a fundação, com seu 11º álbum, ?The getaway? (lançado na última sexta), pode-se dizer que o lado sensível do grupo enfim passou à frente do muscular.
A cozinha do baixista Flea e do baterista Chad Smith continua a ser definidora para o RHCP. Mas, no álbum em que eles trocaram os préstimos de Rick Rubin (produtor de seus discos desde ?Blood sugar sex magik?, de 1991) pelos de Danger Mouse, nunca estiveram tão em primeiro plano as guitarras plásticas e certeiras do novato Josh Klinghoffer (é apenas o seu segundo álbum com a banda), os eventuais pianos (tem até um de Elton John, em ?Sick love?, chacundum que ele e o eterno parceiro Bernie Taupin assinaram com os quatro) e os vocais quase sempre agradáveis do eterno surfista Anthony Kiedis.
Há momentos em que o Red Hot transpira cansaço e uma certa falta de inspiração (?We turn red?), outros em que as partes não se encaixam bem (?Dark necessities?) e alguns que lembram canções mais bem resolvidas de outras épocas (?Goodbye angels?). Mas há também músicas para entrar em antologias da banda, como ?Go robot? (feliz incursão no departamento da eurodisco), a setentista ?Detroit? e a quase-ópera-rock ?Dreams of a samurai?, exemplo de musicalidade expandida. Cinquentões que, não obstante, ainda andam por aí sem camisa, Flea, Kiedis e Smith nem sequer tentam soar como a banda fumegante que foram até lá por volta do álbum ?One hot minute? (1995). Mas buscam no refinamento uma opção plausível para a sobrevivência.