Cotidiano

Crítica: biográfico, safadinho e experimental

RIO – ?Desde que eu sou pequeninho que eu só penso em boceta!? brada Tom Zé no famoso show do Circo Voador, em 2011, em que recebeu uma dúzia de calcinhas da plateia ? a maioria retiradas dos corpos das moças presentes, enquanto declamava seu ancestral amor pelo órgão. Sempre relendo sua própria história, o venerável compositor baiano põe nesta delicada ode à sacanagem o que faz melhor: trata com deliciosa superficialidade um tema ?sério?, sem deixar o humor e a pura galhofa de lado. De bônus, uma sonoridade e arranjos de alto nível, garantidos pela produção de Paulo Lepetit (que tira orgasmos múltiplos do contrabaixo) e pela presença de músicos como o sanfoneiro Adriano Magoo e o multi-instrumentista Tuco Marcondes, ambos da banda de Zeca Baleiro. Links Tom Zé

Nada disso quer dizer, claro, que aquele formato da canção, verso, refrão, lalaiá, tenha cooptado o sempre experimental Tom Zé. ?Canções eróticas de ninar? é um punhado de levadas de sanfona nervosas, pontuadas por percussão e baixo, em que ele desfila versos como ?O ato sexual da mulher feia já era sobremesa na Santa Ceia?. Cantar junto é difícil, mas até que um bate-coxa, apropriadamente, consegue-se empreender. Assim como no famoso refrão ?concêntrico e atonal? de ?Tô ficando atoladinha?, o que vale com Tom Zé é a crônica, a aliteração, o trocadilho, aqui bem emoldurados musicalmente.